Após quatro meses de isolamento por conta da pandemia do coronavírus, é possível listar algumas situações vivenciadas: solidão, ansiedade, tédio, sensação de monotonia. Isso pode parecer novidade para a sociedade, mas a situação já era bem familiar para Kate Greene, que passou quatro meses em uma cúpula geodésica no vulcão haviano Mauna Loa, em 2013.
Greene não estava a passeio. Ela fazia parte dos cinco integrantes que participaram da Missão Analítica e Simulativa de Exploração Espacial do Havaí (HI-SEAS). A Nasa aproveita o habitat e o ambiente haviano, parecidos com o de Marte, para realizar testes e solucionar problemas vivenciados por astronautas.
A pauta da vez era entender o motivo dos astronautas perderem tanto peso no espaço. Um dos pontos registrados no novo livro de Greene “Era uma vez, eu vivi em Marte: espaço, exploração e vida na Terra” que ajudam a entender a causa era a “mesmice” nas alimentações: muitas bolsas de alimentos reidratáveis e barras de substituição de refeições.
Além disso, a congestão nasal é muito comum entre os astronautas. Com a perda gradual da identificação dos aromas, as comidas tendem a perder o sabor e podem diminuir o apetite dos tripulantes. “Grande parte do estudo de alimentos estava realmente olhando para o nariz e a forma como cheiramos”, apontou Greene. Por conta disso, ela revela que o molho de tabasco é um sucesso entre os astronautas, pois proporcionam forte sabor às refeições.
Grande parte dos alimentos disponíveis nas missões HI-SEAS são desidratados. Foto: Reprodução/Youtube
Paralelos com a atual pandemia
Não é difícil traçar paralelos entre a experiência vivida por Greene e o atual distanciamento social vivenciado por conta da Covid-19, especialmente quando aborda-se o afastamento de nossos entes queridos. A diferença é que na missão HI-SEAS havia um prazo para que tudo acabasse.
Como Marte está localizado a uma distância considerável da Terra, haveria um atraso na comunicação entre os astronautas e o controle da missão. Para tornar a experiência ainda mais real, o HI-SEAS simulou esse delay. Greene podia mandar um e-mail para sua esposa, mas não estava habilitada para fazer ligações ou chamadas de vídeo.
“Você começa a sentir que as pessoas de fora não estão experimentando isso — nem conseguem entender o que você está sentindo por dentro”, disse ela.
Greene tem uma palavra específica para descrever a dor que acompanha as frustrações tecnológicas: “technoschmerz”. É como a solidão derivada por alguém que não responde a uma mensagem ou a irritação quando uma chamada continua caindo.
Apesar das regalias tecnológicas presenciadas nos dias de hoje — que permitem videochamadas, lives e reuniões — serem diferentes das encontradas na Missão Analítica e Simulativa de Exploração Espacial do Havaí, o isolamento das pessoas mais queridas em tempos de pandemia resulta no mesmo sentimento de solidão vivenciado por Greene.
Via: Digital Trends