Culto nos EUA vende alvejante industrial como cura para Covid-19

Família já vendia falsa 'solução milagrosa' há anos, mas viu seu faturamento disparar com pandemia, e status de igreja impede ação mais firme da Justiça
Renato Santino11/07/2020 00h50, atualizada em 11/07/2020 01h10

20200430035620

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

O Olhar Digital já mencionou algumas vezes um problema de uso indevido de desinfetantes e água sanitária para combater a Covid-19 nos Estados Unidos, incluindo a ingestão desses produtos tóxicos. O que é surpreendente é que essa utilização inadequada nem sempre é apenas fruto de boatos apócrifos na internet: existem pessoas que realmente vendem esses produtos como uma cura milagrosa para curar a doença.

Como revela o site Ars Technica, nos Estados Unidos, uma família de quatro pessoas (o pai e seus três filhos) responderão na Justiça por criar um culto, a Igreja da Saúde e Cura Genesis II, que aproveitava de vantagens para instituições religiosas para vender sua fórmula de água sanitária industrial, , chamada de “Solução Mineral Milagrosa”, ou MMS da sigla em inglês, como um sacramento.

A ideia original de Mark Grenon e seus filhos Jonathan, Jordan e Joseph não era relacionada à Covid-19. Eles estão em atividade há muito mais tempo do que a doença, desde 2010, mas aproveitaram a pandemia para vender seu “tônico milagroso” para combater o coronavírus. Durante investigação, a família orientou um agente disfarçado sobre a dosagem ideal para “curar” um câncer na bexiga de sua esposa fictícia, para se ter uma ideia da diversidade de condições cobertas pela MMS, que incluem também HIV, Alzheimer, esclerose múltipla, malária e autismo.

Os compradores recebiam dois recipientes distintos: um deles continha clorito de sódio, enquanto o outro tinha um “ativador ácido”, com a orientação de misturar as duas coisas antes de consumir. A reação gera o composto dióxido de cloro, que é um alvejante industrial utilizado na produção de papel e de tecido, por exemplo.

E, sim, enganar pessoas preocupadas com sua saúde é lucrativo. Durante 2019, a família faturou US$ 500 mil em vendas e mantinham uma média de faturamento de US$ 32 mil mensais. Com a chegada de 2020 e da pandemia de coronavírus, eles viram seu faturamento disparar, chegando a US$ 123 mil apenas no mês de março.

Enquanto isso, autoridades de saúde como a FDA nos EUA e até mesmo a Anvisa aqui no Brasil emitiam alertas sobre os riscos da ingestão da MMS, que não é um medicamento e não tem nenhuma propriedade terapêutica. Entre os efeitos pelo consumo da solução estão casos severos de diarreia e vômitos, além de queda na pressão sanguínea a um nível arriscado causado por desidratação, além de insuficiência renal aguda.

A Justiça americana tentou impedir que a família Grenon continuasse a vender a MMS, mas eles não seguiram a ordem, dizendo que por serem uma igreja não precisavam obedecer ao FDA ou ao Departamento de Justiça do país. Inclusive, eles chegaram a ameaçar pegar em armas para se proteger de “leis imorais” do Congresso.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital