O novo coronavírus pode atingir o tecido do coração e provocar inflamações que perduram por até semanas após a recuperação, indica estudo publicado nesta segunda-feira (27) na revista Jama Cardiology. Apesar da pesquisa ressaltar o impacto cardiovascular da doença, autores destacam a necessidade de mais investigações para avaliar se a Covid-19 pode causar danos duradouros ao coração.
O trabalho envolveu 100 pacientes recém-recuperados da doença, com idades entre 49 e 53 anos. Imagens de ressonância magnética apontaram que a infecção afetou o coração de 78% dos participantes e 60% deles apresentavam sinais de inflamação no miocárdio. O procedimento foi realizado, em média, 71 dias após os pacientes terem recebido o diagnóstico positivo de coronavírus. A maioria dos voluntários desenvolveu sintomas severos e dois necessitaram de ventilação mecânica.
Também nesta segunda-feira, a revista Jama Cardiology publicou outro estudo que reforça a ação do novo coronavírus sobre o tecido cardíaco. Dessa vez, pesquisadores analisaram a autópsia de 39 pacientes de idades entre 78 e 85 anos, dos quais 35 faleceram em decorrência de pneumonias provocadas pela Covid-19 e os demais morreram devido a outras complicações.
Os autores identificaram a presença do vírus em 24 (61%) das amostras coletadas. A pesquisa ainda concluiu que pacientes sem carga viral apresentaram menos sinais de inflamação dos tecidos cardíacos em comparação com o material de pacientes com mais concentração do vírus. O artigo pontua que não é possível afirmar a incidência de miocardite (inflamação do miocárdio), mas ainda assim não descarta a possibilidade desse e de outros danos ao tecido do coração a longo prazo.
Em abril, uma pesquisa publicada na revista Lancet indicou que o coronavírus também ataca células de revestimento dos vasos sanguíneos. Imagem: NIADI
Atenção às complicações cardiovasculares
Em entrevista ao G1, Roberto Kalil, cardiologista e presidente do Instituto do Coração, destacou que muitas doenças virais podem causar inflamação em tecidos cardíacos e levar a quadros de arritmia, insuficiência cardíaca e infarto. Ele destaca que as complicações cardiovasculares relacionadas ao novo coronavírus “precisam ser vistas com atenção”.
Kalil diz que os resultados do primeiro estudo, que analisou as inflamações do miocárdio por meio de ressonância magnética, indicam “claramente” o potencial da Covid-19 de comprometer o músculo do coração. Para ele, o mais intrigante é que mesmo após dois meses da infecção, ainda há anormalidades. “Em alguns casos, o músculo cardíaco pode enfraquecer, causando a insuficiência cardíaca”, disse o médico.
A pesquisadora do Hospital Universitário de Frankfurt, na Alemanha, e autora principal do segundo estudo, Valentina Puntmann, afirmou à agência de notícias Reuters que ainda é preciso avançar em pesquisas para confirmar se a Covid-19 pode levar o enfraquecimento do coração. Segundo ela, com base nos conhecimentos atuais sobre outras doenças virais, os efeitos do novo coronavírus sobre o coração de pacientes podem ser mais evidentes nos próximos anos.
Via: G1
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