Covid-19: mortes em SP podem crescer 71% com relaxamento da quarentena

Até início de julho, pesquisadores da USP e da FGV preveem 10.300 mortes extras com flexibilização
Fabiana Rolfini15/06/2020 12h14

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Anunciado como forma de retomar as atividades econômicas, o relaxamento da quarentena no estado de São Paulo pode não ser tão promissor. Isso porque é possível ter um aumento de até 71% no número de mortes decorrentes da Covid-19 na região. É o que indicam projeções de grupo de pesquisadores da Universidade de São Pauo (USP) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Vale lembrar que a flexibilização do distanciamento social em São Paulo começou na primeira semana deste mês, quando o número de óbitos causados pela pandemia do novo coronavírus alcançou 9.100 no estado – neste fim de semana eles subiram para 10.500.

Também no início de junho, dados do InfoGripe, sistema de monitoramento da Fiocruz, já alertavam que a decisão de vários estados pela flexibilização de isolamento acontece ao mesmo tempo em que há muitos registros de vírus respiratórios começando a circular pelo Brasil.

Cenários previstos

Segundo cálculos dos pesquisadores, haveria mais 5.500 mil mortes em São Paulo até a primeira semana de julho se não houvesse relaxamento da quarentena e o índice moderado de adesão da população ao isolamento fosse mantido nos níveis de maio. Assim, ajudaria a frear a evolução do contágio.

Já em outro cenário, considerando a reabertura gradual do comércio e as outras medidas de relaxamento, haveria, além das 5.500 mortes, mais 10.300 óbitos até a primeira semana de julho, por conta do aumento da velocidade da propagação do vírus.

Assim, o total de mortes notificadas no estado chegaria a 24.900, de acordo com o grupo da USP e da FGV. O que representa uma diferença de 71% sobre os 14.600 óbitos que os pesquisadores estimam que ocorreriam até o início de julho sem a reabertura.

Reprodução

Flexibilização do distanciamento social em São Paulo começou no início de junho. Foto: werbeantrieb/ iStock

As projeções indicam também um aumento do número de mortes causadas por Síndrome Respiratória Aguda Grave. A flexibilização da quarentena poderá provocar um crescimento de 22% nas mortes associadas à síndrome em São Paulo, com o registro de mais 4.200 casos até o início de julho. Os pesquisadores analisaram dados dos governos estaduais e do Ministério da Saúde.

Comparação com Goiás

Para chegar nestas projeções, o grupo avaliou a evolução do contágio em Goiás, um dos primeiros estados a adotar duras medidas de distanciamento social e um dos primeiros a afrouxá-las. Depois fizeram simulações para entender o que aconteceria se o mesmo padrão observado em Goiás se repetisse em São Paulo.

Em Goiás, o relaxamento da quarentena teve início em 19 de abril e foram registradas 173 mortes em maio. Se o isolamento tivesse sido mantido, 63 mortes teriam ocorrido nesse mês, segundo os pesquisadores.

Na avaliação da equipe, as estimativas feitas para São Paulo podem ser consideradas conservadoras, porque a população do estado é muito maior do que a de Goiás. Sua densidade populacional e taxa de urbanização também são fatores que podem ajudar a facilitar a transmissão do coronavírus.

Embora o governador João Doria tenha afirmado, ao anunciar seu plano de flexibilização, que as medidas de isolamento adotadas em março haviam contido o avanço do coronavírus, especialistas consideraram a decisão prematura.

Segundo a cientista política e coordenadora do grupo, Lorena Barberia, foi uma decisão precipitada por causa da falta de sinais seguros de que o estado conseguiu controlar a transmissão da Covid-19. “É muito arriscado flexibilizar a quarentena com tantas incertezas”, comentou.

Via: Folha de S.Paulo

Fabiana Rolfini é editor(a) no Olhar Digital