Um novo estudo publicado na revista Science mostra que 10,2% dos pacientes graves de Covid-19 produzem um tipo de anticorpo que piora a infecção ao boicotar o sistema imunológico. Neste caso, as células de defesa acabam neutralizando o interferon tipo 1, uma molécula necessária para disparar o alarme do organismo quando o vírus entra no corpo.

Para chegar a esse resultado, uma equipe internacional de cientistas analisou o sangue de mil pacientes com pneumonia grave resultante do coronavírus, 600 infectados assintomáticos ou com sintomas leves e 1.200 pessoas saudáveis. “Esta descoberta mudará o tratamento de alguns pacientes”, afirmou Carlos Rodríguez-Gallego, coautor da pesquisa.

Minutos após o Sars-Cov-2 infectar uma célula, as células dendríticas começam a produzir o interferon 1, uma proteína que envia um sinal de alerta ao organismo. Os interferon são capazes de se ligarem a quase todo tipo de célula e modificar seu metabolismo para ativar a defesa antiviral. Porém, parte dos pacientes possuem um defeito genético que os leva a produzir anticorpos que, em vez de neutralizar o vírus, bloqueiam o interferon 1. Essa seria a causa da gravidade da doença nesses pacientes.

ReproduçãoDefeito genético pode levar a casos graves de Covid-19. Foto: Mongkolchon Akesin/Shutterstock

Dos voluntários analisados, 95% dos que apresentavam a condição eram homens. Isso surpreendeu os pesquisadores, já que as doenças autoimunes são mais comuns em mulheres. “Agora é preciso confirmar essas observações com mais pacientes e, principalmente, estudar a presença desses anticorpos ao longo do tempo”, afirmou Manel Juan, imunologista do Hospital Clínico de Barcelona, na Espanha.

Possíveis tratamentos

Segundo Javier Martínez-Picado, coautor da pesquisa, este é o maior estudo realizado sobre causas genéticas da Covid-19 grave. Os cientistas mostraram que se o interferon 1 for acrescentado às células infectadas, a doença é paralisada. Porém, caso o plasma de pacientes com o defeito genético for adicionado, a infecção recomeça e o vírus se multiplica.

Entre os tratamentos para esse problema, Rodríguez-Gallego aponta dois possíveis. “Se encontrarmos pacientes que produzem anticorpos contra o interferon alfa, que é um tipo de interferon 1, podemos tratá-los com interferon beta, que já é usado como medicamento em outros contextos”, destacou.

A outra opção seria realizar uma plasmaférese. Trata-se de uma filtragem do sangue para eliminar os anticorpos malignos e outras moléculas inflamatórias que podem agravar a doença.

Via: El País