Como o Kentucky se tornou referência no controle da Covid-19 nos EUA

Com medidas como a adoção rápida do distanciamento social, proibição de aglomerações e o fechamento sistemático de empresas e serviços não essenciais, o estado reduziu seus índices de contágio
Renato Mota25/03/2020 20h30

20200325054140-1920x1080

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Com mais de 35 mil infectados, os Estados Unidos está se encaminhando para ser o próximo epicentro do novo coronavírus em breve, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Porém, um estado da região sudeste do país tem se destacado pela forma com que o governo local vem lidando com a pandemia e seu consequente baixo nível de contágio em relação aos estados vizinhos.

Na última terça-feira (24), as autoridades de Kentucky relataram a quarta morte do estado devido à Covid-19, e anunciaram que o número total de infecções confirmadas havia atingido 163. Em comparação, o vizinho Indiana registrou 365 casos confirmados e 12 mortes, Ohio já passa de 564 e o Tennessee, que tem 2,3 milhões de residentes a mais do que o Kentucky, teve 517 casos confirmados e uma morte.

O governador democrata Andy Beshear vem recebendo elogios dos dois lados do espectro político norte-americano por ter conduzido o surto de uma maneira calma e decisiva. Entre outras ações, declarou estado de emergência ainda no início de março, o que deu às autoridades locais tempo para ajudar a população, escolas e hospitais a se proteger e planejar a para a chegada da pandemia.

Diariamente o governador promove entrevistas coletivas, ao lado do comissário de saúde pública de Kentucky, Steven Stack, com informações baseadas em fatos e pesquisas em favor do esforço para “achatar a curva”, ou retardar a disseminação do coronavírus. “Ainda estamos no meio da crise, e acredito que estamos tomando medidas agressivas e importantes que salvam a vida das pessoas “, disse ele aos repórteres.

Cerca de 7% dos testes para Covid-19 realizados no estado deram positivo. Kentucky está abaixo da média entre os estados vizinhos: 20% de Indiana e de 27% de Tennessee. Os 7% de Kentucky são, no entanto, mais altos do que as taxas na Virgínia Ocidental e no Missouri, que têm menos casos e fizeram menos testes. Também é superior à taxa na Virgínia, que tem o dobro do número de casos e substancialmente mais testes concluídos.

O senador republicano Robert Stivers afirmou que as “atualizações consistentes do governo Beshear sobre o estado da saúde pública” ajudaram “os esforços para garantir que nossos grupos de saúde pública estejam preparados para essa situação”. Outro republicano, David Osborne, presidente da Câmara dos Deputados, prometeu ajudar nos esforços de Beshear, afirmando que o governador tem a “autoridade necessária para agir, mas estamos preparados para intervir com apoio adicional, se necessário”.

Esse apoio suprapartidário vai até o nível federal. Após uma conversa com Beshear, o líder da maioria no Senado dos EUA, Mitch McConnell, pediu ao secretário de Saúde e Serviços Humanos, Alex Azar, que apoie os esforços do governador para obter suprimentos. “Peço que você trabalhe com o governador do Kentucky, Andy Beshear, enquanto o governo dele solicita kits de EPI e testes adicionais ao seu departamento”, disse McConnell em comunicado.

Reprodução

A ESTRATÉGIA

Enquanto o governador do Tennessee, Bill Lee, esperou até 12 de março para declarar um estado de emergência, Beshear declarou estado de emergência no Kentucky em 6 de março. Em alguns dias, o governador emitiu uma ordem para renunciar a co-pagamentos, franquias e taxas de exames para cerca de 433 mil cidadãos com planos de saúde para testes do Covid-19.

Para aqueles sem seguro de saúde privado, ele ampliou a cobertura do Medicaid para cerca de 480 mil residentes. Kentucky cobre cerca de 1,3 milhão de pessoas através do Medicaid. Cerca de 600 mil deles são crianças. Beshear ainda pediu para comunidades religiosas a cessarem as reuniões semanais e proibiu a manipulação de preços de produtos emergenciais.

Até o dia 10 de março, já tinha ordenado que todos os lares de idosos e instituições de longa permanência, com poucas exceções, fossem fechados aos visitantes. Dois dias depois, pediu às escolas públicas e privadas que começassem a fechar, permitindo flexibilidade a distritos individuais, que rapidamente implementaram programas de entrega de refeições para os alunos.

No dia 15, o governo anunciou a iniciativa “healthy at home” (saudável em casa), incentivando o isolamento social para a população. A iniciativa ainda incluiu um fechamento sistemático de empresas e serviços governamentais não essenciais – começando por bares e restaurantes e progredindo até que apenas mercearias, mecânicos de automóveis, bancos e instalações médicas permaneçam em aberto.

Ao mesmo tempo, o governo afrouxou as regras do seguro-desemprego e estabeleceu novas linhas telefônicas para que as pessoas dessem entrada no benefício. O governo não esteve sozinho em suas ações: John D. Minton Jr., juiz da Suprema Corte do Kentucky, fechou a maioria dos tribunais do estado, incluindo o tribunal de despejo. Embora a insegurança habitacional deva aumentar no estado, concomitantemente com a renda das famílias diminui em meio à perda de empregos, até 20 de março a maioria das expulsões no estado havia sido interrompida.

Via: CNet

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital