Cientistas estudam transfusão de anticorpos para conter o coronavírus

Ainda não existem evidências que confirmem a eficácia do tratamento
Redação24/03/2020 17h00, atualizada em 24/03/2020 17h50

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Cientistas norte-americanos estudam um novo tratamento para conter o novo coronavírus com base na transfusão de plasma entre pacientes já curados e pacientes ainda infectados com a doença. A iniciativa não tem qualquer relação com a notícia falsa que hemoterapia poderia prevenir a Covid-19.

Segundo reportagem da revista The Wired, o processo corresponde a uma espécie de soroterapia que introduz nos enfermos anticorpos bloqueadores das proteínas espinhosas utilizadas pelo vírus para infectar as células humanas.

A pesquisa, no entanto, está em estágio inicial e ainda não apresenta evidências sobre sua eficácia. Porém, na opinião de Florian Kramer, um virologista da Universidade de Mont Sinai à frente do projeto, o tratamento é promissor.

Ele diz que a técnica foi usada para tratar pacientes na China. Os dados dos pesquisadores chineses, contudo, nunca foram revelados. Kramer cita ainda um estudo publicado na revista científica Lancet Infectious Diseases que aponta evidências do uso do plasma convalescente no tratamento de outros vírus, como SARS, MERS, H1N1 e Ebola.

Método

Para desenvolver a soroterapia contra a Covid-19, Kramer conduz experimentos com o material genético do novo coronavírus na tentativa de reproduzir a proteína espinhosa em laboratório. O pesquisador então pretende aplicar o material em uma amostra de sangue para observar como anticorpos reagiriam à proteína.

O objetivo é desenvolver um método para incentivar a produção de anticorpos, bem como medir o volume desses agentes no sangue do paciente já recuperado. Só assim seria possível identificar se um doador é adequado e qual o volume de plasma certo para ser administrado no paciente com o coronavírus ativo.

A iniciativa de Kramer já recebe o apoio de mais de 100 laboratórios espalhados pelos Estados Unidos. Por outro lado, não possui o suporte do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nem da Food and Drugs Administration (FDA) – uma espécie de Anvisa americana.

Desafio

De olho em acelerar a aprovação do tratamento, a ideia dos pesquisadores é conduzir os estudos ao mesmo tempo em que elaboram argumentos para o uso compassivo da soroterapia. Ou seja, o teste em pacientes com quadros muito graves da Covid-19, nos quais não há alternativas de tratamento e a família permite o uso de drogas experimentais.

Uma segunda possibilidade é aplicar o tratamento em profissionais de saúde que podem entrar em contato com o vírus, a fim de induzir a imunidade dessas pessoas. Vale lembrar novamente que não há evidências se o tratamento seria capaz de promover a imunidade prometida.

De acordo com a The Wired, no entanto, em coletiva de imprensa na segunda-feira, a coordenadora da força tarefa contra o Coronavírus dos Estados Unidos, Deborah Brix, afirmou que a FDA analisa a possibilidade de testar tratamentos de soroterapia assim que uma opção for desenvolvida no país.

Recentemente, a organização liberou experimentos com hidroxicloroquina, um antiviral que mostrou resultados positivos em alguns poucos estudos.

Contudo, mesmo se aprovado pelas autoridades de saúde, o tratamento ainda enfrentaria desafios estruturais. A reportagem aponta, por exemplo, que seria necessário mobilizar a atuação de bancos de sangue americanos em grande escala, em proporções nunca antes praticadas no país.
Além disso, seria preciso elaborar logística complexa para coletar o sangue dos pacientes já recuperados, testar se a amostra é apropriada, preparar o plasma e enfim distribuir nos postos de aplicação.

Fonte: The Wired

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital