Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) criaram um aplicativo que gera testes para o novo coronavírus até cinco vezes mais baratos que os convencionais, a partir de experimentos com peixes- zebra (peixe paulistinha). Liderado pelo pós-doutorando do Instituto de Ciências Biomédicas Ives Charlie da Silva, o projeto conta com a participação de uma equipe multidisciplinar formada por cientistas de diversas faculdades da USP e outras instituições de ensino.

Ainda em fase de validação, a proposta envolve fitas diagnósticas equipadas com QR codes. As fitas carregam anticorpos contra o coronavírus extraídos de ovos de peixes paulistinha. A ideia é que o paciente use um swab, uma espécie de cotonete, para coletar a própria saliva e, na sequência, aplique a amostra na superfície para reagir com os anticorpos. “Para obter o resultado, ela [a pessoa] abriria o aplicativo e leria o QR code da fita”, disse Ives Charles, em entrevista ao Jornal da USP.

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Peixe paulistinha. Imagem: Wikipedia

Para obter os anticorpos, os pesquisadores introduziram a proteína espinhosa do novo coronavírus nos peixes. Essas estruturas são conhecidas como o principal instrumento usado pelo antígeno para invadir as células humanas. Os animais então produziram anticorpos para neutralizar a proteína. Os cientistas ainda induziram os peixes para se reproduzirem, com o objetivo de passar os agentes de defesa do organismo para os ovos depositados pelos peixes-zebra. Os anticorpos então foram extraídos e usados para produzir as fitas diagnósticas.

Geolocalização

Com o aplicativo ainda é possível fazer o monitoramento por geolocalização dos usuários que testaram positivo para a Covid-19. O sistema prevê, inclusive, notificar órgãos de saúde pública sobre o resultado. Caso uma infecção for confirmada, o programa ainda faz perguntas para monitorar os sintomas clínicos do paciente por 14 dias.

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Interface do aplicativo ZebraFish Covid-19. Imagem: Reprodução/Jornal da USP

“Um dos nossos diferenciais é este: o governo ou uma agência sanitária será informada. Hoje, o Ministério da Saúde tem que ficar ligando para as pessoas com sinais clínicos da doença. No aplicativo, a pessoa mesma pode ir informando”, ressaltou Ives Charlie em referência ao programa TeleSUS, do Governo Federal.

Escala global

De acordo com o pesquisador, o objetivo seria produzir os testes rápidos em larga escala para que as pessoas pudessem adquirir o produto em farmácias e fazer o exame em casa. A equipe de cientistas, no entanto, ainda trabalha para quantificar a concentração de anticorpos necessária para fazer o mapeamento de quantos peixes paulistinha serão preciso para elaborar as fitas diagnósticas em escala global.

O “zebrafish” é um ótimo modelo de animal para desenvolver essa missão, uma vez que um peixe adulto da espécie mede cerca de 5 centímetros de comprimento. Isso otimiza o espaço de criação e permite que os custos do teste sejam reduzidos em cinco vezes.

A iniciativa de Ives Charlie e seus colegas surgiu no Global Virtual Hackathon Covid-19, sediado no Azerbaijão nos dias 10 e 12 de abril. O projeto ficou em terceiro lugar da competição.

Fonte: UOL/Jornal da USP