Brasil teve mais de 100 entradas do coronavírus no início da pandemia

Maioria dos casos 'importados' do país veio da Europa e dos Estados Unidos, já que país barrava visitantes que estiveram na China
Renato Santino25/07/2020 00h18, atualizada em 25/07/2020 00h20

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Uma nova pesquisa publicada nesta semana na revista Science mostrou o quanto a demora do Brasil em controlar o acesso ao país pode ter contribuído para a perda do controle da pandemia de Covid-19. O estudo conclui que o país teve 100 entradas diferentes do coronavírus no país.

A maior parte dessas introduções do vírus em território brasileiro aconteceu entre o fim de fevereiro e março, principalmente por meio de viajantes dos Estados Unidos e da Europa. Não fica claro se foram visitantes desses países ou se eram brasileiros retornando de viagem, como no caso das primeiras infecções confirmadas no país.

A revelação mostra que a decisão de fechar as portas para viajantes que estiveram na China nos primeiros meses da pandemia deu resultado, mas não foi o suficiente quando ficou evidente que o vírus já havia se espalhado para outros países com fluxo de viagens mais constante com o Brasil.

A pesquisa, conduzida pelo Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE) com pesquisadores de vários centros de pesquisa brasileiros e britânicos, realizou a análise genômica de 427 amostras do vírus em 85 cidades de 21 estados do Brasil e encontrou 18 linhagens distintas do vírus no Brasil, mas apenas uma parcela pequena propagou-se pelo Brasil. Apenas 3 dessas linhagens foram referentes por 76% da propagação no país; o restante não conseguiu estabelecer cadeias de transmissão robustas.

A maior parte das entradas atinge diretamente, não por acaso, as cidades com aeroportos internacionais, incluindo São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Fortaleza. A região Norte do Brasil, onde a crise da Covid-19 foi muito intensa no início da crise da pandemia no Brasil, com falta de leitos hospitalares em Manaus, teve múltiplas entradas internacionais e nacionais.

A pesquisa parece contradizer algumas estimativas prévias sobre a propagação da Covid-19 no Brasil, que apontavam que o vírus já circulava havia muito tempo antes do primeiro caso confirmado, em 26 de fevereiro. Também coloca em dúvidas outro estudo que encontrou sinais do Sars-Cov-2 em amostras de esgoto de 2019 em Santa Catarina.

O estudo também traça um paralelo claro entre as medidas de isolamento implementadas no primeiro mês da propagação do vírus no Brasil e a redução da transmissibilidade do coronavírus. Antes de Rio de Janeiro e São Paulo anunciarem medidas como fechamento do comércio e das escolas, o número de reprodução do vírus chegou a ficar acima de 3, mas a implementação das restrições levou em poucos dias essa taxa para 1,6.

Reprodução

Para quem não está familiarizado, o número de reprodução, ou “R”, é um número que indica quantas pessoas, em média, um portador de um vírus é capaz de infectar. Ou seja: no início, uma pessoa poderia passar o vírus para outras três, ou até mais, o que criaria um cenário muito mais grave rapidamente. Com patamares próximos de 1, a propagação é muito mais lenta, especialmente quando se leva em consideração o efeito exponencial. Quando o valor está abaixo de 1, significa que o vírus está sob controle e tende a se extinguir dentro de uma população.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital