Aos poucos, a sociedade brasileira começa a se adaptar às recomendações de autoridades de saúde no mundo inteiro, evitando sair de casa para reduzir as chances de contágio pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2). Um efeito colateral deste momento é que as pessoas começam a usar a internet de formas diferentes do convencional. O que nos leva à questão: o Brasil está pronto para atender a essa mudança no tráfego de rede?

O resultado já foi sentido pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), associação que supervisiona a internet brasileira. Ao Olhar Digital, Julio Sirota, gerente de infraestrutura do IX.br, explica que o perfil de uso da rede já é levemente diferente, embora ainda seja um movimento discreto.

Sirota aponta que foi percebido um movimento de uso de rede mais próximo do que é registrado aos domingos. Tradicionalmente, o pico de uso de internet doméstica é no horário em que as pessoas começam a voltar do trabalho, a partir das 18h, mas neste novo movimento, há um salto de uso por volta das 10h e 11h da manhã, que se mantém em um patamar alto e estável pelo resto do dia. É um uso mais intenso do que um dia de semana convencional.

Isso significa que já é perceptível que mais pessoas têm começado a acessar a internet em suas casas em vez de dirigir-se ao seu local de trabalho. É um novo tipo de demanda de tráfego que não se via até a crise do coronavírus, mas que, segundo o NIC.br, não deve causar maiores transtornos na vida do brasileiro.

O grande “vilão” do tráfego de internet, que tende a ocupar mais a infraestrutura brasileira, é o streaming de vídeo. Serviços como Netflix e YouTube são os que mais consomem dados, mas ainda assim, o possível aumento no tráfego não deve ser suficiente para atrapalhar o uso de internet. De acordo com Sirota, essa é uma prática que as pessoas já fazem todos os dias, e a única diferença é que esse peso deve ser distribuído de forma mais igualitária ao longo do dia, em vez de ver um pico de uso à noite.

O que é percebido é que, na verdade, o que vai se notar é uma alteração geográfica do consumo. Centros comerciais devem ter sua participação no tráfego reduzida, enquanto o movimento deve ser inverso nos bairros de maior concentração residencial. Isso pode causar alguns transtornos com as operadoras, no entanto, se a infraestrutura regional das empresas não for capaz de atender a essa nova demanda. As operadoras parecem estar confiantes de que isso não será um problema, já que anunciaram nesta semana uma série de benefícios aos clientes que estimulam o uso da rede em vez de restringi-la temendo gargalos.

Sirota define a rede brasileira como “robusta e resiliente” e reforça que a crise do coronavírus e a reclusão dos brasileiros em casa tende a não ser mais pesada sobre a infraestrutura de rede do Brasil do que o que se percebe durante a Copa do Mundo, quando os escritórios passam a consumir vídeo por streaming. Se não há gargalos durante o evento, não será a Covid-19 que os causarão.

O que as operadoras estão fazendo?

A infraestrutura de rede brasileira deve sobreviver sem maiores sustos ao confinamento dos brasileiros durante a crise, mas as operadoras começaram a se mexer para dar maior apoio aos seus clientes neste momento.

TIM e Vivo, por exemplo, liberaram acesso a ferramentas de trabalho como Office 365 e Microsoft Teams sem descontar do plano de dados dos usuários.

Enquanto isso, a Claro passou a oferecer Wi-Fi grátis para os usuários que estiverem nas ruas onde houver as redes #NET-CLARO-WIFI; para tal, basta assistir a vídeos do Ministério da Saúde sobre prevenção ao coronavírus. A empresa também está dando bônus de internet móvel aos seus clientes, prática que também foi seguida pela Vivo.

Tanto a Claro quanto a TIM anunciaram acesso ao aplicativo Coronavirus SUS, aplicativo do Ministério da Saúde com informações para prevenção e combate à Covid-19. A Nextel, por sua vez, optou por liberar internet ilimitada para todos os seus clientes durante a pandemia.