Nesta sexta-feira (20), começou a circular um áudio na caixa preta do WhatsApp afirmando que o Hospital do Coração (HCor) e a Prevent Senior iniciaram um protocolo de tratamento com hidroxicloroquina e azitromicina para Covid-19. Trata-se de uma informação falsa e sem qualquer embasamento.
Quando o Olhar Digital entrou em contato tanto com o Hospital do Coração, quanto com a Prevent Senior, a resposta foi a mesma em ambos os casos: trata-se de “fake news”. Não há neste momento nenhum protocolo em vigor para utilização das drogas em pacientes com a Covid-19. O comunicado do HCor é claro sobre o tema:
Em relação ao áudio que está circulando nas redes sociais, sobre um novo protocolo adotado pelo Hospital do Coração no tratamento e cura do Covid-19, o HCor esclarece que:
- Não há nenhum protocolo no hospital para utilizar hidroxicloroquina e azitromicina associados no “tratamento e cura” do Covid-19.
- Trata-se de “fake news”, que está sendo disseminada de forma irresponsável envolvendo o nome da instituição.
- O HCor repudia de forma veemente essa atitude, que presta um desserviço à população e gera falsas expectativas.
O áudio apócrifo é atribuído a diferentes nomes de destaque na área da saúde. Em alguns círculos ele é atribuído a Pedro Batista Júnior, diretor-executivo da Prevent Senior; em outros, a fala é creditada a Cláudio Lottenberg, presidente do conselho do Hospital Albert Einstein. A múltipla atribuição já é um indicativo da falta de confiabilidade da informação.
Para piorar, o áudio menciona um “estudo em Stanford” realizado com 40 pessoas em que 100% delas se curou do vírus após o tratamento. Não há qualquer estudo do tipo publicado pela Universidade de Stanford nos últimos dias.
O que há de real sobre isso?
O único estudo conhecido sobre o assunto, e que apresentou resultados promissores, foi realizado na Universidade de Aix-Marselha envolvendo 36 pacientes. Os que receberam a combinação de hidroxicloroquina, um remédio que já existe desde os anos 1940 e é usado em combate a doenças como lúpus, malária e artrite reumatoide, com azitromicina evoluíram mais rapidamente do que os que não receberam as drogas.
No entanto, o estudo é limitado e depende de experimentos mais profundos, com o devido rigor científico, com uma base maior de pacientes, antes de sua eficácia ser comprovada. Como explicou ao Olhar Digital o doutor Ary Serpa Neto, pesquisador do Hospital Albert Einstein, não é incomum que técnicas que mostraram bons resultados em estudos pequenos se provem ineficazes quando o experimento é realizado de forma ampla e seguindo as normas mais rígidas. Existe a possibilidade de o medicamento causar ainda mais danos ao paciente.
A Anvisa reforça essa posição, afirmando que não recomenda a combinação dessas drogas para o combate à Covid-19 pela falta de estudos e não recomenda que o público compre ou utilizem os medicamentos sem prescrição médica.
Apesar disso, os estudos sobre o assunto devem começar a acelerar a partir de agora, diante dos resultados obtidos na França. Donald Trump já tem pedido à FDA, órgão americano similar à Anvisa, para acelerar as pesquisas sobre os medicamentos para que ele seja aprovado o mais rápido possível se sua eficácia for comprovada.