Duas pessoas morreram e 621 estão infectadas com o coronavírus COVID-19 no navio de cruzeiro Diamond Princess, em quarentena desde o último dia 5 no Porto de Yokohama. Isso eleva para três o número de mortos total em decorrência do surto no Japão. Isolados, passageiros e tripulantes da embarcação são como um microcosmo da epidemia da doença no mundo.

Inicialmente, o vírus foi detectado em passageiro de 80 anos que havia desembarcado recentemente. Prontamente, os mais de 3,7 mil a bordo não foram autorizados a sair até 19 de fevereiro. Apesar dos esforços e do ambiente controlado, o COVID-19 se espalhou pelo navio e preocupou autoridades em terra.

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Passado o período determinado pelo Ministério da Saúde japonês, as pessoas que não apresentaram sintomas começaram a desembarcar: 443 pessoas já deixaram o navio, 90% delas japonesas. Um novo grupo de 50 pessoas deve desembarcar nesta quinta-feira (20) e é esperado que o restante dos passageiros e tripulantes autorizados deixe a embarcação até esta sexta-feira (21).

Durante o período de duas semanas em que foi isolado no porto, o Diamond Princess teve a maior concentração de pessoas infectadas com coronavírus fora da China continental. O surto também afetou outros navios: o World Dream ficou em quarentena em Hong Kong por quatro dias. A Royal Caribbean e a Norwegian Cruise Line não permitem passageiros com passaporte da China, Hong Kong ou Macau ou que viajaram recentemente para a China a bordo para viagens programadas. O Westerdam foi afastado de cinco países antes de ser autorizado a atracar no Camboja.

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A própria palavra “quarentena” vem da relação de navios com doenças. No século 14, quando a Peste Negra assolava a Europa, o porto de Veneza estabeleceu uma regra: qualquer navio vindo de lugares onde a praga estava se espalhando, eram obrigados a permanecer ancorados no mar por 40 dias para provar que não a estavam infectados.

Navios de cruzeiro modernos, que são verdadeiras cidades flutuantes, com ênfase em refeições comunitárias e atividades em grupo, são famosos por serem uma incubadora de doenças infecciosas. Em 2008, 196 pessoas adoeceram em cruzeiro que viajava pelas Ilhas Britânicas – a maioria depois de passar algum tempo nas áreas de maior tráfego do navio. Germes ficam em utensílios de serviço compartilhados, bolas de bocha, maçanetas e corrimãos.

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Para piorar, no caso do Diamond Princess, procedimentos adequados de controle de infecção não foram seguidos, segundo especialistas. Embora os passageiros tenham ficado confinados em seus quartos durante a quarentena, membros da tripulação continuaram se movendo livremente pela embarcação. Eles ainda foram responsáveis por entregar e receber materiais, como formulários em papel, entre os passageiros.

“Todos nós comemos juntos. Há muitos lugares em que todos estamos juntos, não separados um do outro”, disse à CNN o membro da tripulação Sonali Thakkar. “Especialmente quando nos sentamos no mesmo refeitório e comemos juntos, o lugar onde ele pode se espalhar muito rápido.”

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As desigualdades entre pessoas fora do navio também se refletem dentro dele – especialmente durante a quarentena. Passageiros e tripulantes com um status maior, também contaram com um nível de proteção maior, além de suas próprias cabines com mais espaço. “A tripulação está morrendo de medo”, disse Arnold Hopland, um médico que estava de férias no navio, ao Politico. “Eles estão assustados e estão reunidos em locais apertados, trabalhando lado a lado”.

Os cruzeiros ainda ocupam uma posição geopolítica especial. Como operam em águas internacionais, não estão sujeitos às leis e jurisdições de países onde atracam. O surto do coronavírus, porém, destaca a dependência de estruturas e políticas em terra para o seu controle. A tripulação e os passageiros da Diamond Princess estavam sujeitos a decisões de quarentena do Japão. Autorizados a sair do navio, eles agora devem se sujeitar aos regulamentos de seus países de origem.

Via: The Verge