Anúncios recentes de que as vacinas da Pfizer e da Moderna teriam uma eficácia superior a 90% trouxeram uma onda de esperança para todo o mundo. Se os resultados se mantiverem, poderemos deixar de lado parte das medidas adotadas para conter a pandemia de Covid-19 e voltar às nossas vidas normais em pouco tempo.
Porém, esse “pouco tempo” não está exatamente claro para todas as pessoas, e algumas expectativas podem acabar sendo frustradas. De acordo com especialistas do setor, suprimentos da vacina provavelmente serão limitados até meados de 2021, o que significa que a maioria das pessoas não será capaz de obtê-la tão cedo.
A Pfizer já declarou que até o fim do ano só teria estoque o suficiente para vacinar cerca de 20 milhões de pessoas. Até o fim do ano que vem, há a expectativa de produção de 1,3 bilhão de doses – o suficiente para vacinar cerca de 650 milhões de pessoas, considerando que cada pessoa recebe duas doses. Ou seja, 10% da população mundial, no melhor dos cenários.
Essa vacina em específico ainda tem cum complicador que pode dificultar sua produção e distribuição. Diferente das vacinas mais comuns, que usam uma versão enfraquecida de um vírus, ou parte dele, a vacina da Pfizer e da Moderna consistem em uma injeção de informação genética, na forma de RNA. A resposta imunológica é desencadeada quando o próprio organismo do paciente usa essa informação genética para fabricar uma parte do vírus.
A Pfizer e outras empresas farmacêuticas têm apostado em uma plataforma genética para produção de imunidade contra a Covid-19. Imagem: Giovanni Cancemi/Shutterstock
Essa técnica ajudou Pfizer e Moderna a largarem na frente no desenvolvimento das vacinas, mas o processo de fabricação das vacinas é difícil. As doses precisam ser mantidas em temperaturas ultrabaixas, de cerca de -70°C, o que exige equipamentos caríssimos, mas mantém a dose viável por seis meses.
Porém, mesmo com freezers tão poderosos à disposição, a distribuição da vacina também será um desafio. O contêiner de armazenamento desenvolvido pela Pfizer pode manter as doses resfriadas em gelo seco por até dez dias de viagem. Mas dependendo da frequência com que os recipientes são abertos e por quanto tempo, esse prazo pode ser consideravelmente mais curto. Gelo seco também pode entrar em falta com o aumento da demanda.
Fora da contenção, as doses podem durar cerca de cinco dias em refrigeração padrão. Grandes centros médicos e centros urbanos são os que têm maior probabilidade de dispor dos equipamentos necessários para o armazenamento e transporte dessas doses. Mas áreas sem essas instalações, como em áreas rurais e países em desenvolvimento, podem ter que esperar por outras vacinas.
E mesmo essa distribuição não está tão clara, já que por contrato os EUA têm direito, eventualmente, a comprar 600 milhões de doses da Pfizer. O fundador e CEO da BioNTech (que produz a vacina em parceria com a Pfizer) Ugur Sahin, disse ao Financial Times que as empresas usariam “uma abordagem justa” na distribuição de doses entre os diversos interessados.
Um porta-voz da Pfizer disse à Time que a empresa “está empenhada em garantir que todos tenham a oportunidade de ter acesso à nossa vacina”, e que está “trabalhando em estreita colaboração com governos locais”. O porta-voz acrescentou que a distribuição global tem ocorrido sem problemas durante os testes clínicos, e que freezers ultrafrios portáteis estão disponíveis para locais de vacinação menores.