Pesquisadores do LabCidade, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), cruzaram dados de hospitalizações por Covid-19 e Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) com o CEP residencial dos hospitalizados para montar um mapa que mostra a distribuição da epidemia em 25 municípios da Região Metropolitana de São Paulo.

O trabalho de visualização de dados ainda indica onde os casos estão mais concentrados – uma gradação que vai do amarelo ao roxo, formando ilhas de calor em relação tanto a hospitalizações quando a óbitos. Casos de SRAG, que podem indicar possíveis subnotificações da Covid-19, aparecem na cor verde.

“Os dados de hospitalização mostram que a epidemia está espalhada por toda a cidade. Não existe uma região ou bairro que esteja livre. Eles também indicam que uma análise dual ou homogênea não funciona. A questão é mais complexa, pois existem periferias mais e menos atingidas, assim como bairros centrais ou consolidados muito ou pouco afetados”, explica Raquel Rolnik, uma das coordenadoras do LabCidade, em entrevista à Agência Fapesp.

O projeto desenvolvido na USP é semelhante ao apresentado pela Secretaria de Planejamento e Gestão do governo de Pernambuco (Seplag) que criou um mapa virtual para mostrar as localizações dos casos da Covid-19 no Recife e no interior do estado. Mais simples, o mapa da Seplag mostra casos confirmados, óbitos e pacientes recuperados por rua.

“Estamos observando que cada cidade tem uma disseminação diferente e que cada pedaço da cidade é diferente. Portanto, não dá para trabalhar com uma estratégia única. A estratégia de isolamento em bairros centrais, com uma população de classe média com mais acesso e que pode migrar para o teletrabalho, é completamente diferente da realidade das periferias. Por isso a estratégia de isolamento tem um limite para adesão. Muitas pessoas precisam trabalhar e não foi dada condição para que elas permanecessem em casa. Por outro lado, as condições em casa e bairros também são necessárias”, disse Rolnik à Agência Fapesp.

O projeto, porém, está em risco. Desde o último dia 5 de junho, o Ministério da Saúde retirou de sua base de dados alguns micro dados, como o CEP dos hospitalizados. “Caso permaneça a não divulgação desses dados, o trabalho de análise do LabCidade ficará comprometido”, afirma a coordenadora.

“Não trabalhamos com os dados gerais, só os que estavam disponíveis. Há uma subnotificação enorme, mas precisamos trabalhar com o que temos, para elaborar com mais precisão estratégias de enfrentamento da doença”, disse Rolnik. “O mapeamento por CEP respeita a privacidade das pessoas e famílias infectadas, na medida em que não fornecemos a geolocalização de cada caso”. Dados de assintomáticos, de não hospitalizados e de óbitos em casa não entram no mapa.

Via: Agência Fapesp