Estudo reforça imunidade duradoura com células T após infecção por Covid-19

Após seis meses acompanhando 100 pacientes, todos ainda contavam com células para combater o vírus mesmo após anticorpos
Renato Santino03/11/2020 17h23, atualizada em 03/11/2020 17h40

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Aos poucos, mais estudos trazem luz sobre o mistério da imunidade desenvolvida pelo corpo humano após contrair a Covid-19. Uma nova pesquisa reforça que o corpo consegue, sim, desenvolver proteção contra o vírus por períodos prolongados. Em um grupo de 100 pessoas acompanhadas durante um período de 6 meses, todos mantiveram uma resposta contra o coronavírus.

O estudo, conduzido pelo consórcio de imunologia do Reino Unido, acompanhou trabalhadores da área da saúde que foram infectados entre março e abril e não precisaram de hospitalização. A pesquisa foi divulgada como preprint, e ainda não foi publicada em uma revista científica ou revisada.

Desde o início da pandemia, há relatos claros que mostram que os níveis de anticorpos podem declinar rapidamente após a infecção, às vezes chegando a níveis indetectáveis em questão de três meses. O estudo de agora traz uma perspectiva sobre as outras respostas do organismo, que conseguem dar proteção prolongada mesmo após os anticorpos começarem a desaparecer. O objetivo era medir a resposta por células T e células B.

Primeiro, é necessário entender como funciona o básico do sistema imunológico. Quando um invasor é detectado, a resposta inata é ativada: são disparados contra o vírus anticorpos genéricos como primeira linha de defesa. Se elas não conseguem fazer o trabalho, o corpo começa a montar uma resposta específica contra a ameaça, e aí entram as tais células T e B, como explica o site The Guardian.

As células B têm a função de produzir anticorpos contra uma ameaça. Já as T têm duas missões: destruir as células infectadas para impedir a replicação viral e auxiliar as células B na tarefa de produção de anticorpos. Juntas, elas criam uma memória imunológica que permite a ação rápida em caso de nova exposição ao vírus, mesmo quando os anticorpos já estiverem em níveis baixos ou indetectáveis. São elas as responsáveis pela imunidade de longo prazo.

O que ainda não se sabe é quão longo é esse prazo, porque a doença ainda é nova. O estudo pelo menos deixa claro que, durante todo o período analisado, as células estiveram presentes, mas só o passar dos meses (ou anos) dirá por mais quanto tempo elas permanecerão no organismo.

O estudo também indica que a resposta de células T dos participantes que desenvolveram sintomas da Covid-19 foi mais intensa. Os níveis eram 50% maior do que entre os acompanhados que tiveram uma infecção assintomática. Além disso, essa resposta foi medida mesmo em quem já não demonstrava anticorpos na corrente sanguínea.

Os cientistas, no entanto, indicam que a amostragem ainda é pequena para respostas definitivas, apesar do resultado animador. Novos estudos com milhares de pessoas são necessários para conclusões mais assertivas sobre o tema.

O que o estudo deixa claro é que a medição de anticorpos como ferramenta para analisar a incidência do vírus sobre uma população não é ideal. Os pesquisadores recomendam exames que analisem as respostas com células B e T em vez de apenas os anticorpos.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital