Estudo da USP reprova uso de vermífugos contra a Covid-19

Amplamente usados como possível tratamento para o novo coronavírus, a ivermectina e a nitazoxanida (mais conhecida pelo seu nome comercial 'Annita') não tiveram bom desempenho em testes in vitro
Renato Mota14/07/2020 22h40
20200714074629

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Uma triagem feita pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) reprovou dois vermífugos que vêm sendo apontados como possíveis tratamentos para a Covid-19: a ivermectina e a nitazoxanida (mais conhecida no Brasil pelo seu nome comercial, Annita) não tiveram desempenho satisfatório na eliminação do Sars-Cov-2.

Por outro lado, dois dos 65 medicamentos analisados demonstraram capacidade de inibição seletiva do novo coronavírus in vitro. O objetivo da pesquisa, publicada na plataforma bioRxiv, que hospeda de trabalhos científicos que ainda não passaram pelo processo de revisão por pares, é testar o potencial de uso de drogas já disponíveis para a prevenção ou o tratamento da pandemia.

De acordo com os pesquisadores, a decisão de publicar o estudo antes do processo de revisão  deve-se à urgência da pandemia e à intenção de “colocar esse conhecimento à disposição da comunidade científica o mais rápido possível”. A pesquisa contou com a participação de dez autores, incluindo colaboradores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e de outras duas unidades da USP: Instituto de Biociências (IB) e  Instituto de Física de São Carlos (IFSC).

De acordo com o ICB, as substâncias mais promissoras foram o brequinar, uma molécula que sendo testada para diversas aplicações (inclusive como antitumoral e antiviral) e o acetato de abiraterona, um antitumoral usado no tratamento do câncer de próstata. A ivermectina e a nitazoxanida eliminaram o vírus nos testes, mas também mataram as células.

“Se o vírus depende da célula, e você afeta a célula, é claro que vai afetar o vírus. Mas não adianta matar o vírus se você mata o hospedeiro junto”, explica o coordenador da Plataforma de Triagem Fenotípica, Lucio Freitas Junior. A pesquisa utilizou a técnica chamada triagem fenotípica, no qual os cientistas infectam células com o vírus em laboratório e testam o efeito de diferentes drogas sobre elas, em diferentes dosagens.

Apesar da bula da ivermectina recomendar uma dose única para a eliminação de vermes e outros parasitas, Freitas alerta que sites e vídeos na internet recomendam seu uso contínuo, em caráter profilático, como forma de evitar infecções pelo novo coronavírus. Estados e municípios estariam até distribuindo o medicamento à população como parte do chamado “kit covid”, que costuma incluir também a hidroxicloroquina.

A própria cloroquina foi incluída na testagem da USP e se mostrou eficaz e seletiva contra o Sars-Cov-2 in vitro, mas de acordo com os pesquisadores, estudos clínicos demonstram que ela não é efetiva contra a doença no organismo humano, além de carregar o risco de efeitos colaterais graves para alguns pacientes.

Via: Jornal da USP

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital