Em meio à escalada da pandemia do novo coronavírus no Brasil, estados e municípios iniciaram planos de retomada de atividades econômicas, incluindo a reabertura de shoppings e do comércio de rua. De acordo com a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), até quarta-feira (10), mais da metade dos 577 centros comerciais do país já foram reabertos.
A quantidade ainda deve aumentar nesta quinta-feira, com o retorno da operação de shoppings nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Os 53 estabelecimentos da capital paulista vão abrir por períodos de quatro horas, após a prefeitura e representantes de setores da economia acordarem protocolos para minimizar a propagação do coronavírus.
Entre medidas de prevenção adotadas em todo o país, estão a obrigatoriedade do uso de máscaras, a criação de áreas para higienização das mãos, a sanitização de ambientes e a medição de temperatura das pessoas. Para especialistas, no entanto, as regras podem ser insuficientes para conter a disseminação do vírus, uma vez os números diários de casos e mortes registrados no país seguem crescendo nas últimas semanas.
Brasil ultrapassou a marca de 40 mil mortes confirmadas por coronavírus, nesta quinta-feira (11). Imagem: Bruno Kelly/Agência Reuters
Em entrevista à BBC News, a epidemiologista Adélia Marçal dos Santos, especialista em dinâmica em transmissão de doenças infecciosas e professora de Medicina da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, explica que nuvens de gotículas geradas pela fala, espirro ou tosse em ambientes fechados oferecem riscos de contaminação para pessoas que trafegam por nos estabelecimentos.
Segundo ela, ainda que máscaras fasciais ajudem a conter a propagação das gotículas, o uso não garante proteção total contra a infecção. “As máscaras reduzem a contaminação do ambiente, mas não têm a capacidade de proteger as pessoas contra possível aspiração de pequenas partículas em suspensão no ar, que podem conter o vírus”, afirmou a médica.
Máscaras não são garantias
Especialistas ainda apontam que centros comerciais podem apresentar dificuldades em garantir o distanciamento social entre os frequentadores. Na manhã desta quinta-feira, foram registradas diversas aglomerações em shoppings e comércios de rua que retornaram às atividades na cidade de São Paulo.
“Muitas vezes, nesses estabelecimentos não há um cuidado com foco na proteção individual. Muitas vezes, não há cuidado no ambiente para evitar a propagação do vírus. Nesses locais pode haver filas e as pessoas nem sempre respeitam o distanciamento social (de dois metros). Isso facilita a transmissão do vírus”, disse o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Fernando Spilki, em entrevista à BBC News Brasil.
Adélia Marçal destaca que muitas pessoas não sabem fazer o uso correto da máscara e isso facilita ainda mais a propagação do vírus. “Muitas pessoas tocam no rosto o tempo todo, mexem nas máscaras e podem tocar em superfícies e se contaminar”, afirmou.
Em São Paulo, o uso de máscaras faciais em locais públicos é obrigatório Imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil
Fernando Spilki acrescenta que o uso de máscaras é apenas uma parte de um conjunto de medidas de proteção necessárias para impedir a disseminação do vírus. “A máscara é uma ferramenta que deve funcionar aliada a um conjunto de medidas de restrição de movimentação social, higiene e testagem. Seria muito fácil apenas usar a máscara e toda a população não precisar de nenhuma outra medida. O que funciona é o conjunto de medidas, não uma parte ou outra”, disse o especialista.
Recomendações
A recomendação dos pesquisadores é frequentar shoppings apenas em casos de extrema importância. Porém, diante de alguma necessidade, a orientação é planejar a visita e se certificar dos horários de funcionamento e a disponibilidades dos produtos que deseja encontrar. Ainda assim, o consumidor deve ficar o menor tempo possível em ambientes fechados. A preferência deve ser por lojas de rua, ou lugares abertos.
Segundo Adélia Marçal, também é fundamental ter álcool em gel sempre à disposição e usar máscaras faciais durante todo o período fora de casa, incluindo o trajeto até o shopping. “Vá ao banheiro em casa. Mesmo que seja feita limpeza regular, o banheiro público é um lugar crítico para a transmissão comunitária da Covid-19, pois é menos ventilado e força a proximidade. Caso vá ao banheiro, evite conversar ou deixar pertences em bancadas”, detalha Adélia.
Outra dica é observar se é possível praticar o distanciamento social de dois metros dentro dos estabelecimentos.
“Respeite o distanciamento para a sua proteção e para o cuidado coletivo. Evite áreas de aglomeração. Se for o caso, espere reduzir o fluxo para passar ou se aproximar de um local”, pontua a epidemiologista. “Dentro das lojas, evite tocar em objetos e manuseie apenas o que deseja comprar”, diz a médica.
A médica ainda ressalta que o consumidor deve evitar pagamentos com dinheiro em espécie e dar preferência a pagamentos por aproximação. Caso tenha contato com a máquina de cartão, a orientação é limpar as mãos com álcool em gel logo após o contato.
Fonte: G1