Muitas terapias experimentais vêm sendo desenvolvidas para combater a covid-19. Uma delas ganhou destaque no fim de semana: as aplicações de anticorpos monoclonais, adotadas para tratar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que se contaminou com o novo coronavírus. 

E essa não é uma ideia nova: os anticorpos são usados como tratamento há décadas. Um bom exemplo é o soro antiofídico: pequenas doses de veneno de cobra são introduzidas em um cavalo para provocar a produção de anticorpos. Esses anticorpos constituem o soro que neutraliza o veneno.

O Olhar Digital conversou com Jake Glanville, CEO da Centivax. Essa empresa americana tem uma equipe dedicada ao desenvolvimento de anticorpos monoclonais para tratar pacientes com covid-19. Jake conta o que são exatamente essas partículas e como elas agem.

Quando alguém recebe anticorpos, a ação deles no organismo é muito rápida. Segundo Jake, depois de serem aplicados no paciente, os anticorpos passam a circular na corrente sanguínea em 30 a 60 minutos. Aí, já estão prontos para neutralizar o vírus.

A vacina, por sua vez, demora para fazer efeito. E, quando um indivíduo está infectado, enquanto o sistema imunológico aprende a lidar com o vírus, ele está em risco. Por isso, ninguém quer esperar.

Mesmo quem ainda não tem sintomas da covid-19 pode receber os anticorpos. Para Jake, isso pode ser interessante, especialmente neste momento em que a reabertura de cidades e países tem sido buscada por governos de todo o mundo.  

No caso da covid-19, ainda se busca determinar se a ação de anticorpos pode ser prejudicial para o doente. Isso porque, em alguns casos, os anticorpos estimulam o sistema imunológico e isso pode ser ruim se ele já estiver muito ativo. Por outro lado, eles podem ser oferecidos com segurança a diferentes perfis: crianças, grávidas, idosos e outros. 

Para Jake, no futuro, as terapias com anticorpos vão ser um tratamento usado ao mesmo tempo que as vacinas contra a covid-19. Ele reforça que a vacina é uma ótima opção, que provavelmente vai oferecer pelo menos um ano de proteção, enquanto os anticorpos devem proteger o indivíduo por oito a dez semanas. Mesmo assim, eles devem se complementar.

Apesar dos avanços no desenvolvimento de vacinas e mesmo que pelo menos uma delas se prove eficaz, a Organização Mundial da Saúde prevê que continuaremos a usar máscaras e a manter o distanciamento social durante 2021 e 2022. Jake avalia que, com o uso da terapia de anticorpos, a crise sanitária acaba.

A terapia com anticorpos ainda é experimental e deve demorar um pouco para chegar à população, caso seja aprovada. O fato de ser usada no presidente americano a coloca em uma grande vitrine: agora, resta saber se positiva ou negativamente.