Covid-19: números mostram que Brasil faz menos testes do que deveria

Além disso, demora na divulgação dos resultados auxilia na imprecisão dos dados
Luiz Nogueira12/06/2020 15h20

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Devido ao baixo número de testes RT-PCR realizados para diagnosticar a Covid-19, o número de casos confirmados no Brasil muitas vezes é tratado como secundário por especialistas que analisam a disseminação da doença por aqui.

De acordo com Daniel Lahr, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista ao G1, o país “está testando brutalmente menos do que deveria. Na melhor das hipóteses, 20 vezes menos do que é considerado adequado. É tão pouco que a amostra pode ser basicamente ignorada”.

Por conta disso, especialistas preferem utilizar índices de morte e ocupação de leitos para substituir o de testes justamente pela imprecisão dos dados de contaminados. Essas informações são importantes para determinar, por exemplo, se uma reabertura gradual é a melhor opção ou medidas mais rígidas devem ser adotadas.

Reprodução

Com resultados precisos, é possível definir uma abordagem para enfrentamento da pandemia. Foto: Agência Brasil 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), para saber se um país realiza testes suficientes, basta analisar a taxa de resultados positivos. Do total realizado, 5% ou menos devem apresentar confirmação. No Brasil, por exemplo, essa média é muito maior, chegando a 36,6% de acordo com o sistema da Our World In Data, plataforma adotada pela Universidade Johns Hopkins para montar seu quadro mundial com dados da doença.

Os números no Brasil são altos justamente porque o país realiza testes apenas em pacientes que já estão em situação avançada. Países como Espanha e Itália, por exemplo, apresentam índices de 3,59% e 3,61%, respectivamente. Isso ocorre por conta de medidas de testagem em massa.

Estimativas da Our World In Data apontam que, até a primeira semana de junho, 2,28 pessoas a cada 100 mil habitantes foram testadas no Brasil. Nos Estados Unidos, esse número é muito maior, chegando a 61,59 indivíduos testados a cada 100 mil habitantes.

Como recomendação, a OMS diz que, quanto mais casos um país confirma, mais testes devem ser realizados. O ideal, segundo o órgão, é que o número de testes seja de 10 a 30 vezes o total de infectados. Após o país apresentar um quadro de melhora, o número de exames pode diminuir.

Problemas do país

Devido à situação atual, a realização de testes de detecção é muito importante para determinar a disseminação da doença. Com os resultados, é possível tomar decisões em relação às atividades econômicas e identificação dos doentes para isolamento.

Além dos problemas relacionados ao número de exames realizados, o Brasil enfrenta a demora na divulgação dos resultados. Segundo o Ministério da Saúde, até 2 de junho havia mais de 15 mil testes em situação de análise em Minas Gerais. No Rio de Janeiro, a situação é semelhante, com 11.031 exames aguardando divulgação de resposta – quase o número total de infectados confirmados, que chega a 11.777.

Outro fator decisivo está ligado à falta de clareza na divulgação dos dados. No site criado pelo Ministério da Saúde, são divulgados apenas os casos de laboratórios que utilizam o sistema Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL) para registro dos resultados. No entanto, alguns laboratórios públicos e particulares não utilizam a plataforma.

Quando somados, todos esses fatores resultam em um número de mortes que fornece um retrato atrasado da situação. Quando uma pessoa é infectada, segundo Lahr, é necessário de 20 a 25 dias até que ela faleça. Por conta disso, a indicação de óbito ocorre quase um mês após a infecção.

Via: G1

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital