Pesquisadores da Rede de Ressonância Magnética Nuclear do Rio de Janeiro participam do consórcio internacional Covid-19-NMR, que acontece em Frankfurt, na Alemanha. O consórcio busca desvendar a estrutura das proteínas do novo coronavírus, para usá-la na triagem de medicamentos para o tratamento da doença. São mais de 120 pesquisadores de 14 países reunidos no Covid-19-NMR. O Brasil é o único país do hemisfério sul no consórcio.

O grupo brasileiro é composto por cientistas da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Centro Multiusuário de Inovação Biomolecular da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de São José do Rio Preto. O projeto foi apoiado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), que investiu R$ 180 mil.

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Pesquisadores brasileiros participam de consórcio que estuda Covid-19. Imagem: Reprodução

Betacoronavírus

“Embora a proteína do coronavírus seja bastante diferente da de dengue e zika, optamos também, pela nossa experiência, por trabalhar com a proteína dos betacoronavírus”, explicou o pesquisador Fabio Almeida, da UFRJ, à Agência Brasil. O grupo brasileiro estuda a proteína N (nucleocapsídeo) de dengue e zika.

Os pesquisadores associaram-se ao consórcio em abril deste ano, e trabalham com os cinco betacoronavírus que infectam os humanos, incluindo o Sars-Cov-2 (mais recente), o Sars-Cov (que causou epidemia em 2002/2003, na China), e o Mers-Cov (causou epidemia em 2012, no Oriente Médio); todos os três causam síndrome respiratória aguda grave. Outros dois betacoronavírus, que causam resfriado comum e são endêmicos, também são estudados: o hCov-OC43 e hCov-HKU1.

“Optamos por trabalhar com todas essas cinco proteínas e fazer um esforço conjunto para, no prazo curto de seis meses, termos respostas efetivas com relação a essa proteína”, afirmou Almeida. O pesquisador estima que a estrutura de uma das proteínas deve ficar pronta em um mês. Segundo ele, a estrutura é a base fundamental para o desenvolvimento de compostos ativos. “É como se fosse um molde”, explicou. “Você vai tentar achar moléculas que encaixem perfeitamente nesse molde e inibam a ação da proteína”. Obviamente, o interesse maior é a proteína do Sars-Cov-2.

Uma parte do consórcio é voltada para a triagem de novos compostos. Ainda nesta semana, o grupo brasileiro mandará a proteína preparada no Brasil para Frankfurt. Almeida espera que, dentro de um mês, já se tenham os compostos que se ligam a essa proteína. Testes nesse sentido também são conduzidos no Brasil.

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Consórcio estuda as proteínas do coronavírus em busca de novos tratamentos. Imagem: Reprodução

Potencial para novas drogas

A meta, de acordo com Almeida, é desenvolver protótipos com potencial de novas drogas capazes de impedir a replicação do novo coronavírus e de combater a Covid-19.

A proteína N é uma peça-chave regulatória no processo de transcrição do vírus. Se os cientistas atingirem a estrutura da proteína N, poderão inibir a replicação do vírus e, por consequência, impedir a infecção.

O grupo brasileiro, formado por cerca de 30 pesquisadores, usa ferramentas de ressonância magnética nuclear em um dos equipamentos mais modernos da América Latina, o supercomputador Santos Dumont, do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. O equipamento descreve as características da proteína e os compostos ligantes e os deposita em uma biblioteca open science.

Os trabalhos são avaliados a cada duas semanas, em reuniões com os demais integrantes do consórcio mundial.

Via: Agência Brasil