Se a propagação do coronavírus não for interrompida e manter seu ritmo, ela pode infectar até 60% da população mundial e matar um em cada 100 afetados, o que representaria 50 milhões de pessoas. Foi isso que disse o presidente de medicina de saúde pública da Universidade de Hong Kong, Gabriel Leung. Se ele está realmente certo é difícil dizer, já que ainda não existem muitas informações sobre o vírus.

Para responder, primeiro é necessário descobrir se é possível impedir que o vírus se espalhe mundialmente. Até o momento, são mais de 40 mil casos na China e 300 em outros 24 países. Este coronavírus se espalha muito mais rápido que qualquer outro que foi passado de animais para humanos.

Interromper essa propagação requer identificar e isolar os infectados. Isso pode ser especialmente difícil, já que algumas pessoas podem ficar doentes apresentando apenas sintomas leves. Embora o tempo médio entre as pessoas serem infectadas e os sintomas se manifestarem é de cerca de três dias, pode demorar até 24 dias para isso. Esse período é maior que o de quarentena de duas semanas recomendado.

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A China está tomando medidas drásticas para conter o vírus, mas não está claro se elas estão realmente funcionando. Houve uma queda no número de novos casos relatados por dia, mas isso pode ser por conta da sobrecarga dos hospitais

Há boa chance de que os países ricos consigam conter os poucos casos atualmente detectados. A grande preocupação é que o vírus esteja se espalhando em países sem recursos para detectá-lo. O chefe da OMS alertou que podemos estar vendo apenas “a ponta do iceberg”.

Depois da contenção, a próxima dúvida é a de quantas pessoas seriam afetadas em caso de uma epidemia global. Estima-se que 24% da população mundial tenha sido afetada pela pandemia de H1N1 em 2009. Até onde se sabe, ninguém tem imunidade pré-existente ao atual coronavírus. Cada infectado pode transmitir para até quatro pessoas. Por conta disso, Leung estima que 60% das pessoas podem ser infectadas mundialmente, mas é impossível dizer com certeza.

A seriedade do vírus também é fundamental. As estimativas iniciais da taxa de mortalidade por novas doenças geralmente são mais altas do que o valor real, já que apenas casos graves são detectados. Os relatórios iniciais mostram uma taxa de 2% de mortalidade para o coronavírus de 2019. Esse número foi baseado na divisão do número de mortes pelo número de casos confirmados.

Com base em estimativas do número de casos leves que não são contados, Neil Ferguson, do Imperial College London Ferguson, calcula que 1% dos infectados estão morrendo. Isso ainda pode ser uma superestimação, já que os tratamentos em desenvolvimento podem reduzir ainda mais a taxa. “A preocupação não é apenas aqueles infectados pelo coronavírus, mas todos os serviços que não serão mais executados. Você verá todos os tipos de efeitos indiretos”, afirmou Devi Sridhar, da Universidade de Edimburgo.

Estes casos são mais graves nos países pobres, onde sistemas de saúde já estão com dificuldades. Crianças começaram a morrer de sarampo quando a vacinação parou durante a recente epidemia de Ebola na África. No entanto, mesmo os países ricos podem lutar. Os planos de pandemia do Reino Unido são de magnitude semelhante ao H1N1, por exemplo.

Paul Hunter, da Universidade de East Anglia, acredita que o coronavírus vai acabar matando menos do que a gripe de 2009. “Não espero que tenhamos esse grau de fatalidade com esse coronavírus, mas posso estar errado. Se for muito pior que o H1N1, seria terrivelmente difícil de lidar”, concluiu.

Via: New Scientist