Apesar de algumas regiões do mundo terem conseguido controlar o coronavírus, a maioria do planeta ainda está lidando com um surto descontrolado de Covid-19. Então, quando durante a noite de quinta-feira (9) começaram a surgir relatos de uma nova “pneumonia desconhecida” que já teria causado mais de 1.700 mortes no Cazaquistão desde o início do ano, o mundo inteiro ficou preocupado. Uma pandemia só não é suficiente?

O alerta foi publicado pela embaixada chinesa no Cazaquistão, com o objetivo de avisar seus cidadãos sobre os potenciais riscos de saúde no país vizinho. No entanto, tudo indica que se trata de um erro de informação.

Então o que aconteceu de errado para que a embaixada chinesa desse esse susto no planeta? Ao que tudo indica, o problema foi de natureza linguística: uma falha de tradução em um comunicado cazaque deu origem a essa confusão toda. Como nota Wenxin Fan, jornalista do Wall Street Journal especializado na cobertura da Ásia, tratava-se de um comunicado de autoridades de saúde do Cazaquistão com atualizações sobre pneumonia comum, e a embaixada acabou adicionando a palavra “desconhecida” para descrever a doença sem qualquer base.

O Ministério da Saúde do Cazaquistão negou veementemente que haja algum surto de “pneumonia desconhecida mais letal que a Covid-19”. Representantes do governo admitem que, sim, existem mortes por pneumonia de etiologia desconhecida, mas não necessariamente são a mesma doença, e, inclusive, podem ser exatamente casos de Covid-19 que não foram devidamente diagnosticados.

Para traçar um paralelo com o Brasil, segundo o Portal de Transparência do Registro Civil, o país já tem 9.586 mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) não especificada desde o começo do ano, que é mais de 12 vezes mais do que o mesmo  de 2019. O que a embaixada chinesa fez seria o equivalente a falar que essas 9.500 mortes seriam uma única doença nova e misteriosa, quando na verdade elas provavelmente são casos de Covid-19 que não puderam ser diagnosticados corretamente.

O ministério cazaque aponta que classificou como “pneumonia” casos em que sintomas de contágio pelo coronavírus estavam presentes, mas cujos testes resultaram negativo. No entanto, como relata a BBC, médicos e familiares de vítimas da tal pneumonia misteriosa contam que isso pode acontecer como resultado de falso-negativo de testes de baixa qualidade ou pela simples ausência de testes.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) também atribuiu as mortes pela “pneumonia desconhecida” à Covid-19. Mike Ryan, diretor do programa de emergências da entidade, diz que, sim, esses casos estão em seu radar, mas é provável que se trate de casos de coronavírus. “A trajetória ascendente da Covid-19 no país sugere que muitos desses casos sejam, de fato, casos não-diagnosticados de Covid-19”, ele afirma.