Atualmente, mais de 133 vacinas para a Covid-19 estão em desenvolvimento em laboratórios de todo o mundo – isso só contando as reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde. É um esforço sem precedentes da história, mas que está sendo prejudicado pelo número limitado de cobaias suscetíveis à infecção pelo Sars-Cov-2.

A escolha do animal ideal é uma questão científica. Diferentes animais oferecem plataformas distintas que, em testes, respondem perguntas específicas sobre a infecção pelo novo coronavírus, a indução de doença e sua transmissão.

Porém, pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, em St. Louis (EUA), relatam que desenvolveram um camundongo “modelo” que consegue replicar a doença como ela age pessoas, e que pode ser adotado facilmente por outros cientistas para acelerar os testes de tratamentos experimentais e preventivos contra a Covid-19.

A pesquisa foi descrita em um artigo publicado na revista científica Cell. Além dos testes de drogas e vacinas, os pesquisadores podem usar o rato modelo para desenvolver condições de saúde como obesidade, diabetes ou doença pulmonar crônica para investigar por que algumas pessoas desenvolvem casos de Covid-19 mais graves enquanto outras se recuperam por conta própria.

“Os ratos são úteis porque você pode estudar um grande número deles e observar o curso da doença e a resposta imune de uma maneira que é difícil de ser feita nas pessoas”, explica o principal autor do estudo, o especialista em infecções virais Michael S. Diamond.

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Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington desenvolveram um “rato modelo” que deve acelerar a busca por medicamentos e vacinas para a Covid-19. Imagem: Matt Miller/ Washington University in St. Louis  

Ratos não são naturalmente infectados com o vírus que causa a Covid-19. A proteína que o vírus usa para se prender nas células do trato respiratório humano é diferente. Por isso, os cientistas têm utilizado ratos geneticamente modificados, criados em 2003 para o estudo da síndrome respiratória aguda grave (Sars). O problema é que dada a velocidade da pandemia, não há ratos suficientes para todos os pesquisadores.

Diamond e sua equipe, que já trabalharam na criação de uma cobaia modelo para a zika, inseriram o gene da proteína humana em um vírus respiratório leve (modificado para infectar células, mas não se reproduzir) e os injetaram nos ratos. Os animais passaram então a produzir a proteína humana em suas vias respiratórias por alguns dias, tornando-os vulneráveis ​​à infecção pelo Sars-Cov-2.

Em testes posteriores, foi constatado que o vírus se espalhou rapidamente ao longo do trato respiratório das cobaias, principalmente nos pulmões, onde se replicou em números altos e causou pneumonia com inflamação acentuada. Os pesquisadores também descobriram níveis mais baixos de vírus no coração, baço e cérebro – todos órgãos que também podem ser alvos do vírus nas pessoas.

“Os camundongos desenvolvem uma doença pulmonar semelhante à que vemos nos seres humanos”, afirma Diamond. “Eles ficam bastante doentes por um tempo, mas acabam se recuperando, como a grande maioria das pessoas que desenvolvem a Covid-19. Você pode usar essa técnica com quase qualquer variedade de rato de laboratório para torná-los suscetíveis ao novo coronavírus e depois fazer o tipo de estudo que você deseja: testar vacinas ou medicamentos, estudar a resposta imune e muitas outras coisas relacionadas à doença”, completa o pesquisador.

Via: EurekAlert