Tecnicamente falando, uma Smart City é uma cidade que utiliza tecnologia para conectar o físico ao virtual, objetivando aumentar o nível de ciência do que acontece em todos os ambientes e com os cidadãos (usando informações randomizadas), oferencendo tudo como serviços via sertivitização, analisando dados para determinar tendências e revertendo em mudanças através de atuadores e interação com os cidadãos. Integram IoT, IA, cloud, conectividade, blockchain, realidade virtual/mista, gameficação, e centenas de outras tecnologias para melhor a qualidade de vida nas cidades, reduzir o impacto ambiental e otimizar o uso do que é público. As cidades inteligentes não são somente cidades mais conectadas ou informatizadas, mas sim cidades que agregam valor para as pessoas, negócios, melhoraram a sustentabilidade, tornam o uso do que é público eficiente e eficaz.

No projeto de Cidades Inteligentes não devemos focar somente nos problemas atuais e suas soluções. Devemos olhar como as tecnologias disruptivas afetam os modelos estabelecidos, criando novas dinâmicas, culturas e comportamentos. Por exemplo, não adianta projetar prédios com grandes estacionamentos, se ninguém mais possui carro, só anda de Uber. É claro que em algum eles irão ficar. Não adianta se preocupar com grandes residências e condomínios, se as pessoas se tornarem minimalistas e nômades digitais, trocando posse por experiência.

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Muito estão privilegiando a experiência ao invés da posse. Preferem viagens, participação em eventos e comunidades, experiências em geral do que super residências, automóveis, e todo o tipo de posse. Contratam dinamicamente o que precisam, sem fixar base. Nesse contexto, muitos entendem que a economia compartilhada irá se desenvolver fortemente, principalmente devido a onda de desapego ao físico e valoração do virtual (da economia do intangível). O físico será generalizado/compartilhado para o maior número possível de casos de uso. Ao invés de um único uso, vários usos, várias receitas para um mesmo item físico. É o fenômeno de desacoplamento entre posse e uso. A posse de bens que permanecem horas, dias e até mesmo meses sem uso terá alto custo. Assim, o compartilhamento via representantes digitais (gêmeos digitais) pode ser um caminho interessante para gerar renda e trazer valor para posses que tenham pouco uso. A economia criativa apoiada em tecnologias exponenciais e novos modelos irá modificar toda a dinâmica das cidades. Devemos portanto, projetar olhando para o futuro, considerando os cenários e mudanças que a abundância de tecnologias está causando.

No contexto da economia criativa, das coisas e dos dados, onde contratamos coisas dinamicamente e rapidamente usando assistentes virtuais que nos representam e contratam coisas via seus gêmeos digitais, os cripto ativos tem um papel fundamental: permitir que micropagamentos relacionados ao uso compartilhado e oportunista de coisas aconteça. Por exemplo, um assistente pode contratar dinamicamente uma bicicleta para alguém que todo dia usa esse meio de transporte para se locomover de um trabalho para outro.

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O assistente transfere da carteira digital do usuário diretamente para a carteira da bicicleta, que pode pertencer a um conjunto de donos. Todos são monetizados instantaneamente. Para isso tecnologias de registro distribuído de informações são necessárias, como Blockchain ou Tangle (veja meu artigo anterior). Contudo, é possível empregar essas tecnologias sem envolver os micropagamentos, limitando-as ao registro decentralizado imutável de informações a depender da forma como a rede é implementada. Nesse caso, perde-se a possibilidade de monetizar contratos. Muitos projetos estão fazendo essa escolha difícil. Utilizar cripto ativos enriquece o projeto, mas inevitavelmente envolve o projeto no ambiente de criptomoedas e afins, com suas polêmicas, barreiras e oportunidades.

Um ranking das 10 principais iniciativas de Cidades Inteligentes envolvidas com Blockchain (e outras tecnologias similares) foi publicado por Boyd Cohen (PhD) em 2018 com o titulo: “These are the World’s Top 10 Blockchain Cities”. O autor é cofundador da Blockchain Cities Alliance (https://blockchaincities.io/). Mas, qual é a cidade que está em primeiro lugar nesse ranking? A resposta é Singapura. Segundo Cohen, “o governo de Singapura é considerado mais transparente e favorável aos negócios que envolvem cripto ativo do que outros, e possui regulamentações amigáveis ao blockchain. É o lar de vários novos espaços de co-working e incubação de projetos Blockchain”. Um outro artigo de Jeff Wilser intitulado “Crypto-Curious in Singapore: A Visit to Asia’s Fintech Hub” cobre outros aspectos relacionados a adoção de Blockchain em Singapura. Segundo esse artigo, Singapura já é decentralizada, favorecendo a tecnologia Blockchain. Singapura possui muitos investidores em cripto ativos, outro fator que impulsiona a sua adoção real. Tem-se ainda o tamanho do país, seu povo altamente tecnocrático e a infraestrutura de tecnologia disponível para os cidadãos. O banco central de Singapura possui “uma posição pró-blockchain, explorando sistemas que cruzam suas fronteiras com Hong Kong e Canada”. Pequeno nas dimensões físicas, mas um gigante na economia do intangível.

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Um exemplo de aplicação de Blockchain em Smart Cities visando criar novos modelos é o case da Electrify.Asia. Trata-se de uma startup lançada em março de 2017 que visa criar um mercado de eletricidade a varejo no Sudeste Asiático. Ou seja, atender à necessidade de transparência e segurança no mercado de energia. Trata-se de uma nova plataforma de negociação de energia P2P chamada Synergy que utiliza uma Blockchain com tempo de bloco de 5 minutos. Outro exemplo é o +CityxChange (Positive City ExChange). Trata-se de é um projeto de cidade inteligente que fornece plataforma e ferramentas de apoio voltadas para a “co-criação do futuro que queremos viver, permitindo um mercado energético comum apoiado por uma comunidade conectada”. Trata-se de uma abordagem centrada no cidadão. Segundo os autores do projeto, “os municípios devem melhorar sua abordagem sobre como utilizar recursos e se envolver com novas tecnologias”.

Devem mudar culturas. O foco do projeto é microgeração de energia nas cidades, criando um ecossistema que envolve fornecedores tradicionais, fontes renováveis, smart grids e prosumers (como chamados os cidadãos que geram e consomem energia do grid). O argumento dos autores é que no atual modelo muitos não tem a mesma oportunidade de participar na geração positiva de energia para suas comunidades. O projeto inclui as cidades de Trondheim (Noruega) and Limerick (Irlanda), mas outras cidades estão aderindo.

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Mas o que esse projeto tem a ver com monetização?? Segundo David Sønstebø, a IOTA Foundation participa ativamente do projeto. IOTA é uma arquitetura de registro distribuído de informações perenes e imutáveis alternativa a blockchain. Permite micropagamentos com tarifa zero. Veja meu artigo anterior que descreve IOTA. Mas voltando ao assunto, a partir do Flyer do projeto +CityxChange para a cidade de Trondheim é possível verificar onde a IOTA entra: na criação de um mercado comum de energia. Poucas informações ainda estão disponíveis, mas aparentemente a IOTA será utilizada como cripto ativo para monetizar esse mercado comum de energia para as cidades, envolvendo cidadãos, concessionárias de energia e municipalidades. É apenas um caso de uso que ilustra os paradigmas de projeto de cidades inteligentes que comentei acima. A solução vem da co-criação com todos os interessados, utilizando novos modelos e em comunidade. Por fim, vale ressaltar que embora os dois casos que apresentei sejam voltados ao ambiente de smart grids de energia, os princípios utilizados se aplicam muitos outros casos em cidades inteligentes.