O diretor indo-americano M.Night Shyamalan tem fãs e detratores ardorosos na máxima potência. A cada filme lançado com sua assinatura a gritaria nas redes sociais é imensa, contra e a favor.
Nenhum de seus filmes causou reações tão entusiasmadas como Fim dos Tempos (2008), seu oitavo longa-metragem. Talvez porque as pessoas começam a se matar sem explicação alguma. Pior, as explicações que surgem logo se revelam sem o maior sentido e precisam ser descartadas. Talvez porque os atores reagem de modo patético.
Mas pensemos bem: por que é necessário explicar alguma coisa dentro dos gêneros da ficção científica e do horror? Na sala de aula, ainda no começo, o professor Wahlberg pergunta: “O que pode ser a razão do desaparecimento das abelhas?”. E o aluno mais desinteressado responde: “Um ato da natureza que nunca compreenderemos por completo”. Uma resposta que terá seu eco mais adiante no filme, na fala de um especialista. Assim é Fim dos Tempos.
E como deve reagir uma pessoa numa situação improvável dessas? A reação de Zooey Deschanel, por exemplo, com os olhos arregalados voltados para um celular que treme sobre a mesa, causava risos na plateia, assim como a cena assustadora da senhora que, a horas tantas, começa a violentar sua cabeça contra as janelas. Ou a escalação de Mark Wahlberg, quase sempre um herói de ação, como um professor de ciências que em dado momento começa a falar com uma planta de plástico.
Mas Shyamalan, convenhamos, poucas mostrou tanta segurança na criação de uma atmosfera de puro horror como neste filme enigmático e metafórico sobre um relacionamento em crise.
O estranhamento alcançado com as interpretações de Deschanel e de Wahlberg, este claramente deslocado de seu papel típico, vem justamente dessa fuga absurda do óbvio. Em alguns momentos, eles parecem se esforçar para chegar a uma interpretação risível. E não interessa se falta química entre eles. Pelo contrário, essa falta contribui para a esquisitice do filme. A interpretação e a escalação dos atores compõem uma estratégia suicida da direção, mas contribui com esse estranhamento pretendido.
Na trama, há a necessidade de isolamento. O contato com outras pessoas pode ser fatal. Então, uma relação entre marido e mulher se torna quase inviável. Mas o amor precisa vencer, como sempre nos filmes desse diretor.
O filme começa nas nuvens e termina nas nuvens, já disse um crítico português. Desce para Nova York e sobe de novo só no final, em Paris. Os suicídios começam a acontecer após boa parte das pessoas ficarem paralisadas, com algumas voltando para trás. Aos 5 minutos de filme, a garota que está no parque perfura o pescoço com o prendedor de seus cabelos. Depois, um corpo cai da construção. E mais um. E corpos começam a despencar do alto de prédios. O caos.
Entramos no mundo aterrorizante de Shyamalan, no qual as explicações são supérfluas e a tensão é crescente. Entre no clima e desfrute de um dos melhores e mais injustiçados filmes de suspense deste século.
Sérgio Alpendre