Eis uma falsa questão que afeta também o mercado de streaming: o público quer arte ou entretenimento?
Falsa porque um elemento não exclui o outro. Ou seja, eu posso muito bem ser entretido por uma verdadeira obra de arte cinematográfica, ao mesmo tempo em que um filme hollywoodiano, com os dois olhos nas bilheterias, pode ser também uma obra de arte.
Mais: eu posso me entreter com um tipo de filme que jamais seria considerado entretenimento; um filme lento, de planos longos, parado, sem ações ou conflitos, apenas contemplação. E posso achar extremamente enfadonho um filme cheio de perseguições, sustos, cortes rápidos ou outros artifícios normalmente associados ao puro entretenimento.
A questão volta à tona em todos os momentos em que se discute o gosto, quando comentamos um novo lançamento no streaming ou nos cinemas e dividimos nossas opiniões com outros espectadores. E como gosto se discute, sim (voltarei a esse assunto em textos futuros), é essencial pensarmos no assunto.
Sobretudo porque as definições de arte e entretenimento não são gravadas em pedra. São ainda tema de debate para quem deseja estudar estética ou comunicação. São definições mais complexas do que as que normalmente saem da boca dos espectadores, simplesmente porque existem inúmeras variantes que condicionariam, como escrito acima, nosso gosto.
Temos nossos dias de filmes leves e os dias de filmes reflexivos. Temos momentos em que aceitamos fazer parte de uma intrincada proposta estética, mas em outros momentos procuramos apenas a distração mais inconsequente. O legal é que mesmo essa distração pode ter, em sua estrutura, sinais de uma elaborada construção, o que faria dela algo muito maior do que uma simples distração, faria dela uma obra de arte.
As revisões, essenciais para uma verdadeira apreensão da arte, servem para remediar esses condicionamentos, ajudando-nos a depurar melhor nosso gosto. E aí, com o gosto mais depurado por essas revisões, estamos prontos para a discussão.