Na segunda temporada da série inglesa Fleabag, a personagem-título vivida pela criadora da série, Phoebe Waller-Bridge, conhece o padre que fará o novo casamento de seu pai, ao mesmo tempo em que procura um entendimento com a irmã. O fantasma da melhor amiga, falecida de modo acidental que não vemos, continua presente, e a crise dos 30 permanece mais tempo do que deveria.
Três anos depois da primeira temporada, o texto continua forte, assim como o carisma de Phoebe na construção de uma personagem nem sempre agradável, mas que sempre procura nossa cumplicidade por meio de insistentes olhares para a câmera; olhares que só o padre, vivido por Andrew Scott, percebe.
Não demora muito e surge uma improvável tensão sexual entre ela e o padre, e a tensão logo evolui para paixão. Um amor impossível, que significará mais algumas casas de volta na crise que não quer passar.
Ao menos isso lhe dá um norte. Apaixonada pelo padre, o que rende até uma breve relação sexual cheia de culpa, ela pode tentar esquecer que não consegue se relacionar com homem algum, nem mesmo com o pai, e que ainda não superou a morte da amiga.
Além de Scott, um ótimo ator que compõe um padre muito crível em sua própria crise no matrimônio com Deus, Olivia Colman está sublime como a madrasta de Fleabag. Sian Clifford se acerta melhor na personagem meio esquizofrênica da irmã, assim como Bill Paterson no papel do pai.
Com sua média de 24 minutos por episódio, somando seis episódios no total, a temporada toda se assemelha a um longa de quase duas horas e meia de duração (quase o tamanho do novo filme de Tarantino), o que funciona especialmente bem para quem quer liquidar toda a temporada de uma tacada só.
Ela ainda apara algumas poucas arestas deixadas na primeira temporada, e se encerra de um modo altamente poético, numa quieta noite londrina, levantando ainda mais nossa impressão geral.
Se você só puder ver uma série recente neste fim de agosto, veja Fleabag. E entenda por que Phoebe Waller-Bridge é a nova queridinha de Hollywood.
Sérgio Alpendre