Por Lugares Incríveis

Romance adolescente não teme os caminhos mais difíceis
Redação20/03/2020 00h46, atualizada em 20/03/2020 09h03

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Até quando Elle Fanning poderá interpretar uma adolescente? Não sabemos. Mas com 21 anos, ela ainda está bem convincente, ou melhor, atuando maravilhosamente bem como uma adolescente em “Por Lugares Incríveis”, quarto longa dirigido por Brett Haley. A diferença não é tão pequena como parece nesse período da vida, o que explica o espanto de sua presença aqui em comparação com “Um Dia de Chuva em Nova York”, de Woody Allen, mesmo quando lembramos que nos filmes de Allen os personagens tendem a ser mais adultos. Vemos seu trabalho se desenvolver com a força habitual nos dois filmes, e de maneira distinta, e isso é o que importa.

“Por Lugares Incríveis” é a adaptação cinematográfica do elogiado livro de Jennifer Niven, lançado em 2015. Como o livro, o filme, escrito pela própria Niven em parceria com Liz Hannah, também correria o risco de ser apenas uma obra de autoajuda com o verniz estético da Netflix, não fosse a delicadeza com que a direção de Haley trata o tema e a coragem de tomar rumos nem sempre bem-vindos para um público mais sensível.

Elle Fanning, obviamente, brilha mais uma vez, e sabia que poderia brilhar, uma vez que ela é uma das produtoras, revelando-se uma força e tanto nessa posição, equiparável, talvez, à de Drew Barrymore no começo dos anos 2000. Fanning interpreta Violet Markey, adolescente que não consegue se recuperar da morte acidental de sua irmã mais velha. Até que conhece Theodore Finch (Justice Smith, num tom muito acertado), conhecido no colégio como “freak” (aberração), por não corresponder ao que se espera de um adolescente. Finch tem a capacidade de despertar Violet (Ultraviolet, como ele a chama), mas seu problema parece mais difícil de ser solucionado.

Dentro da estética elegante-quase-acadêmica da maior parte das boas produções da Netflix (as ruins são só acadêmicas, ou nem conseguem chegar a esse status), Brett Haley mostra talento em algumas sequências, embora seja dependente da química de seus atores e atrizes. Felizmente, todos estão muito bem, numa ótima escolha de elenco, e o roteiro tem uma costura acima da média das produções da empresa (quase sempre meio desleixadas nesse aspecto).

Talvez tudo se resuma a duas palavras mágicas: romance adolescente. Mas mesmo dentro desse registro é necessário uma direção firme, sem ser pesada, justa e sensível sem ser sentimental. Haley passou no teste, graças à matéria-prima de Jennifer Niven e ao talento incrível da jovem Elle Fanning.

* Sérgio Alpendre é crítico e professor de cinema

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital