Hoje em dia é possível indicar um dos filmes mais célebres de Alfred Hitchcock numa seção como esta, em que pensamos numa pérola escondida. O grave é perceber que um filme do mestre do suspense esteja escondido, pois já não há mais tanto interesse por seus filmes. Eles não pioraram, pelo contrário.

O fato é que Os Pássaros (1963), uma das muitas obras-primas de Hitchcock, está disponível no catálogo do Telecine. É o tipo de filme que deve ser visto de tempos em tempos, para lembrar-nos de que o cinema é capaz de nos proporcionar coisas maravilhosas.

Já viu? Ótimo. Hora de rever e perceber muitas coisas que passaram batidas na primeira visão. Já reviu? Reveja novamente e perceberá a aula de cinema diante de si. Porque Os Pássaros é uma das melhores aulas de cinema que se pode ter. E é também entretenimento, ecoando novamente a bobagem que é separar arte de entretenimento.

Pássaros furiosos começam a atacar a pequena vila de Bodega Bay, perto de São Francisco. Por que? Não se sabe, embora o ponto de vista divino que surge em determinado momento possa sugerir uma vingança da natureza. 

No meio dos ataques, estão um filho que é cuidado por uma mãe superprotetora e uma mulher interessada nesse filho. Estão ainda uma pequena irmã e uma professora que já teve uma história mal acabada com esse filho. Além de um casal de periquitos, claro.

Tippi Hedren é a moça que abala a estrutura familiar montada pela mãe (Jessica Tandy) com esmero. Rod Taylor é o filho, convidado pelo filme a ser o mocinho em uma luta fadada ao fracasso contra a vingança dos animais alados. 

Mas a história é o que menos importa, e importará ainda menos numa revisão. O mais importante é perceber a noção de Hitchcock para coisas elementos essenciais do cinema como enquadramento, duração, ritmo, ponto de vista e trocas de olhares. 

São poucos os filmes, em 114 anos de cinema, que nos dão tanto com tão pouco.