Abril de 1974. Francis Ford Coppola ainda gozava o prestígio alcançado por O Poderoso Chefão, estreado em 1972, e já preparava o terreno para a portentosa continuação, que estrearia em dezembro. Antes, era preciso saber se ele ainda conseguia realizar o que sempre pretendeu: um filme autoral de sucesso. Esse filme foi A Conversação. Fez sucesso? Bem, de forma alguma se comparado aos dois Chefões. Mas do ponto de vista artístico, é até hoje considerado um dos grandes filmes de Coppola, da Nova Hollywood e do cinema da paranoia tão em voga naqueles dias.
Naquele ano o escândalo de Watergate atingia o presidente Nixon, que se viu obrigado a renunciar. A sociedade americana já respirava um tremendo mal-estar vindo do fracasso no Vietnã, da crise econômica acentuada pelos países da OPEP, pelos assassinatos da década anterior (os Kennedys, Martin Luther King e Malcolm X). Watergate foi mais uma facada.
Oportunamente, A Conversação nos mostra um detetive particular especializado em fazer escutas ilegais. Harry Caul é seu nome, e Gene Hackman, um dos grandes legados da Nova Hollywood, lhe dá vida. Em dado momento, ele começa a pensar que o casal que espiona será assassinado, e a crise de consciência que vem dessa ideia o faz perder o centro. Torna-se, ele também, um paranoico.
A edição de som é um primor. O elenco é todo muito bem equilibrado e a narrativa segue com calma, mas tensa, parece que algo vai dar muito errado. O plano inicial, que lembra o que Brian De Palma faria com louvor em diversos de seus filmes e já ensaiava em Irmãs Diabólicas (1973), é de antologia. O zoom por diversas vezes emula a potência da captação sonora do detetive, de um modo que Robert Altman também perseguia com moderado sucesso (ver California Split, do mesmo ano). Ou seja, Coppola estava também sintonizado com seus colegas em busca de um cinema americano mais moderno, ainda que nenhum deles rejeitasse sua rica tradição.
Se os Chefões respondem pelo lado mais bem-sucedido da Nova Hollywood do ponto de vista das bilheterias, embora também enchia a Paramount de grande prestígio, A Conversação é justamente o tipo de filme que os jovens diretores sempre quiseram fazer: orçamento menor (embora não irrisório), atores que ainda não eram estrelas, tema urgente com tratamento mais direto, um tom europeizado e uma direção moderna. Este filme, ao lado de A Trama (Alan J. Pakula, 1974) e Todos os Homens do Presidente (Alan J. Pakula, 1976), forma a trindade mágica do cinema da paranoia, o retrato acabado do mal-estar em forma de pavor. Que o espectador não se engane: trata-se de uma obra-prima absoluta.