Os 40 anos de Apocalipse Now

Se o longa de Coppola não for o melhor filme sobre o Vietnã, certamente é o mais louco
Redação30/09/2019 13h51

20190930105356

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Os 40 anos de Apocalipse Now foram saudados nos quatro cantos da mídia de forma justa. Muito se repetiu sobre as inúmeras dificuldades nas filmagens e de como Coppola só não faliu porque o filme teve sucesso, embora não tanto quanto se pensa. 

Muito se disse também do reencontro com Marlon Brando, após O Poderoso Chefão (1972) e de seu personagem, o coronel Kurtz, que enlouquece e monta uma espécie de seita no meio da floresta asiática, colocando-se no lugar de uma divindade.

Acontece que não é loucura. É hiperlucidez. É quando a lucidez é tanta que se assemelha a loucura. No meio da guerra, a única lógica possível é a de Kurtz, em que se pode cortar uma cabeça e jogá-la no colo de uma outra pessoa. O personagem de Martin Sheen fica assustado, nós ficamos assustados. Mas o que é mais assustador do que uma guerra? Pior: uma guerra em que um império capitalista sacrifica a vida de jovens (principalmente negros e índios) quase que por capricho, pois há muito se percebeu que era impossível vencê-la.

Coppola nos mostra o horror da guerra e a lógica da destruição que domina o mundo de maneira cíclica, doentia. Tudo é corroído, nada mais faz sentido. Que ator poderia encarnar melhor esse sentimento do que Marlon Brando? 

Louco, por sinal, é o personagem de Robert Duvall, Tenente-Coronel Killgore, aquele que gosta de sentir o cheiro de napalm pela manhã. Ele é a guerra, a destruição, enquanto Kurtz já ultrapassou esse estágio. Porque um mundo que precisa de guerra é um mundo sem Deus, e num mundo sem Deus alguém surgirá para ocupar esse papel. Esse é o evangelho de Kurtz. Um evangelho do mal.

O mal-estar da sociedade americana já tinha passado por estágios mais duros. A América estava preparada para acelerar a cicatrização de suas feridas. Vários filmes sobre a Guerra do Vietnã surgiram em 1977 e 1978, com destaque para A Outra Face da Violência, de John Flynn, para o vencedor do Oscar de melhor filme, O Franco Atirador, de Michael Cimino, e para Amargo Regresso, de Hal Ashby. Coppola surge para encerrar esse primeiro ciclo de acerto de contas com o fracasso militar americano. Um novo e enorme ciclo surgiria na segunda metade da década de 1980 (Platoon, Nascido para Matar, Nascido em 4 de Julho, entre outros), mas não tinha a mesma força. 

Apocalipse Now, ou, como escreveu o brasileiro Glauber Rocha, que o critica duramente, “Apocoppolakalypse”, se não foi o melhor de todos os filmes sobre o Vietnã (posto que cabe a O Franco Atirador), foi certamente o mais louco. Ou melhor, o mais lúcido.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital