Há quarenta dias publicamos a lista dos 100 melhores filmes do século 21 segundo o site IndieWire, que primava por desagradar gregos e troianos com a mesma intensidade. The Guardian não quis ficar atrás e publicou uma tão infame quanto, uma nova sucessão de erros quebrados por alguns esporádicos acertos.
São 100 filmes realizados entre 2000 e 2019. Obviamente, alguns da lista são muito bons. Dá para destacar, por exemplo, o recente Era Uma Vez em Hollywood, de Quentin Tarantino, que ocupa o 100º lugar. Ou o melhor filme do tailandês Apichatpong Weerasethakul, Mal dos Trópicos (2005), em 84º. E principalmente o espetacular Cidade dos Sonhos (2001), de David Lynch, que está até bem colocado, em 11º, embora seja melhor que todos os que estão acima.
O primeiro colocado é Sangue Negro (2007), de Paul Thomas Anderson. Não é mau filme, embora não mereça algo maior do que o 80º lugar, mais ou menos. Vê-lo na liderança é um tanto anticlimático.
Pior ainda é o segundo colocado. 12 Anos de Escravidão (Steve McQueen, 2013) pode ter um tema nobre, anti-escravidão, mas como cinema é terrível, cheio de cenas que reforçam um racismo contra o qual pretende lutar. E ainda apela para a má consciência do espectador.
No terceiro lugar, a coisa melhora, mas não muito. Boyhood (Richard Linklater, 2014), é um projeto interessante em sua premissa – mostrar o crescimento dos dois filhos de Ethan Hawke e Patricia Arquette – mas tem a irregularidade como espinha dorsal. Merecia, no máximo, o 100º lugar, pelo esforço e pela ideia, e olhe lá.
Os filmes que compõem os dez primeiros lugares com os três acima citados refletem a irregularidade da lista. Sob a Pele, que o IndieWire colocava em 2º, o Guardian coloca em 4º. Menos mal, mas deveria estar do 80º para cima. O 5º lugar é um belo filme: Amor à Flor da Pele (2000), do chinês Wong Kar-Wai. Do mesmo modo, o 6º colocado é Cachê (2005), melhor filme de Michael Haneke, diretor com mais bombas do que bons filmes.
Os quatro restantes jogam a lista para baixo. Se Moonlight (Barry Jenkins, 2016), 1º da IndieWire, 8º aqui, e Team America: Detonando o Mundo (Trey Parker, 2004), em 10º, são ao menos interessantes para uma única conferida, é duro engolir o insuportável Sinédoque, Nova York (estreia de Charlie Kaufman na direção, 2008) em 7º e o soporífero Zama (Lucrecia Martel, 2017) em 9º.
Mas listas são assim mesmo. Impossível agradar em todas as escolhas. A original, com todos os 100 escolhidos e comentários em inglês, você encontra aqui: