A Vida Invisível, de Karim Ainouz (de O Céu de Suely e Madame Satã), baseado no romance A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, de Martha Batalha, é o filme brasileiro que disputará uma vaga entre os indicados para o Oscar de Melhor Filme Internacional.

A disputa era considerada acirrada entre esse filme e Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que estreia nesta quinta em algumas capitais brasileiras.

O clima, como sempre, foi como o de uma partida eliminatória para a Copa do Mundo. O Brasil não é o país de futebol, como muitos pensam. Mas tudo por aqui vira Fla x Flu (ao menos desta vez com dois filmes interessantes) ou tem esse clima meio bobo de Copa do Mundo.

E afinal, para que nos serve um Oscar? Para levantar nossa auto-estima, decerto, mas também para alavancar as possibilidades comerciais de um filme. 

A Vida Invisível já ganhou a mostra paralela Um Certo Olhar no último Festival de Cannes (enquanto Bacurau venceu o Prêmio do Júri da competição principal). Se conseguir ser um dos cinco indicados ao Oscar da categoria, terá espaço aberto nas bilheterias vencedoras dos borderôs do segundo semestre.

A questão que me parece central é a seguinte: não é porque um filme foi escolhido para nos representar no Oscar que ele automaticamente se torna bom. Assim como os excluídos não são necessariamente ruins. 

A história nos mostra o que há de injustiças nas premiações dos festivais pelo mundo, e quanto maior é o festival, mais interesses que não são cinematográficos estão em jogo. Oscar e Cannes tem por tradição premiar filmes quadrados, presos a uma cartilha nem sempre confiável do “bem filmar”. Filmes mais inventivos tendem a ter poucas chances de premiação, a não ser que se disfarcem de inventivos. Sempre vai haver quem compre.

O importante é que todos os interessados em cinema vejam A Vida Invisível, e também Bacurau, com os olhos livres para gostar ou não. Ninguém é obrigado a gostar porque alguma autoridade suspeita (incluindo a da crítica, categoria em que me incluo) legitimou. E também não é obrigado a detestar como forma de protesto contra autoridades julgadoras. Manter os olhos livres, repito, é o mais importante.