Um Dia de Chuva em Nova York

Amazon volta atrás e divulga novo londa de Woody Allen
Redação25/11/2019 17h53

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Em meio à batalha do streaming, a Amazon produziu o longa anterior de Woody Allen, Roda Gigante. Com os elogios recebidos, voltaram também as acusações de pedofilia, sem que nenhum fato novo tenha surgido, em um caso em que o diretor já havia sido absolvido duas vezes. Woody Allen é um dos desvios do necessário movimento Me Too. Ou seja, após uma série de escândalos que denunciaram assediadores comprovados, Allen foi declarado culpado sem que pudesse se defender.

A Amazon, diante dos protestos de algumas forças progressistas e do pedido de desculpas dos atores Thimothée Chalamet (que doou seu salário por estar envergonhado de ter trabalhado no filme) e Rebecca Hall por terem trabalhado com o “monstro”, resolveu engavetar o filme que Allen tinha acabado de filmar, Um Dia de Chuva em Nova York, fazendo com que 2018 fosse o primeiro ano sem filme de Woody Allen desde 1981 (após Memórias).

Mas isso importa pouco. O principal é que um belo filme ficou quase invisível para seu público. Felizmente, a empresa voltou atrás e podemos ver então o novo opus do diretor mais novaiorquino que o cinema já viu (junto com Spike Lee, ambos um pouco acima de Martin Scorsese).

Tanto Chalamet quanto Fanning nunca estiveram tão bem em um filme anteriormente. Allen é reconhecidamente um excelente diretor de atores e, principalmente, de atrizes (ele disse a uma revista francesa que costuma pagar salários iguais para atrizes e atores, e há muito tempo o elenco é creditado em ordem alfabética). Os diálogos e situações de seus filmes favorecem as interpretações. Não é raro que um ator ou atriz tenha a interpretação de sua vida sob a batuta de Allen.

Fanning, principalmente, está radiante, perfeita como Ashleigh, a estudante de jornalismo que vai a Nova York com o namorado, Gatsby (Chalamet), entrevistar um diretor em crise criativa (Liev Schreiber) por causa de seu último longa. Enquanto ele espera a execução do trabalho pela namorada, ela é assediada pelo diretor, depois pelo roteirista (Jude Law), depois pelo ator (Diego Luna), do filme em questão. Cansado de esperar, Gatsby perambula pela cidade, e reencontra  (Selena Gomez), irmã mais nova de uma namorada anterior.

A luz de Storaro parece amarelada demais, mas isso não chega a incomodar. O mundo do cinema é tratado com a ironia de sempre, com a habitual observação sobre as diferenças de percepção entre os insiders e as pessoas comuns, não raro tendendo a valorizar as opiniões dos últimos. Penso que o pedido de desculpas de Rebecca Hall se deva também a uma interpretação fraca dessa normalmente boa atriz. E Selena Gomez não convence muito como a sofisticada e cínica Chan Tyrell.

Mas se há algo a se censurar de fato no filme, que corre deliciosamente durante a maior parte de seus 92 minutos, é o começo um tanto lento, com diálogos demais (marca do diretor), e o final um tanto forçado. Isso faz com que o longa fique atrás dos dois últimos, Café Society (2016) e Roda Gigante (2017) É, contudo, muito superior ao superestimado Blue Jasmine (2013) e levemente superior a O Homem Irracional (2015).

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital