Por um lado, a Disney está mostrando um poder inédito de destruir, ou pelo menos chamuscar, o seu próprio passado. Penso na desnecessária refilmagem de O Rei Leão. Por outro, sempre houve esse objetivo de dominação desse mundo, e agora, como a concorrência é maior e o mercado movimenta mais dinheiro, a agressividade de suas ações parece parcialmente justificável.
A última travessura financeira é a série The Mandalorian, um spin-off de Star Wars. O trailer, divulgado entre muitas outras atrações na D23 Expo, na California, com o intuito de impressionar fãs e não convertidos, mostra até Werner Herzog, diretor alemão queridinho de inúmeros críticos ao redor do planeta, numa participação improvável como ator.
E como disse o produtor Jon Favreau, a história se passa logo após o ocorrido em O Retorno de Jedi (1983), que, a meu ver, é o melhor longa de toda a série. Situar a trama mais ou menos no meio da saga das três trilogias é um tiro praticamente certo. Vemos o trailer e imediatamente pensamos: como não tiveram essa ideia antes?
Lembremos que George Lucas vendeu a Lucasfilm para a Disney em 2012 e já declarou direta e indiretamente não estar muito satisfeito com os rumos daquilo que criou. Contudo, uma série é o prolongamento natural de qualquer franquia de sucesso, assim como um longa surge como prolongamento natural de uma série de sucesso – Breaking Bad que o diga.
Lucas quis retornar ao início de carreira, quando fazia filmes mais autorais como Loucuras de Verão (1973). Natural que sinta que sua obra esteja sendo deturpada. Seria o pensamento de qualquer artista que se preze, pois é do artista ter uma visão única e insubstituível. Mas muitos fãs não querem saber de autoria, e saboreiam os spin-offs como quem se deleita com um maravilhoso banquete.
Aliás, já foi revelada uma outra série derivada de Star Wars, focada no personagem de Obi-Wan Kenobi e estrelada por Ewan McGregor (o personagem na juventude). Haja gosto para tantos spin-offs.
The Mandalorian tem tudo para alavancar o Disney+, plataforma de streaming do estúdio que chega à América Latina já em 2020. A Disney preparou a série, entre outras iniciativas, para esse lançamento. Até lá, a batalha do streaming já terá feito a alegria de muitos espectadores. Imaginem quando a gigante Disney, junto com a gigante grife Star Wars, derem as caras.
Só que é possível prever um pequeno incômodo. Uma vez que a série já vai ter estreado nos Estados Unidos em novembro deste ano, dentro da versão americana da mesma plataforma, será um grande desafio lidar com a ansiedade do espectador de outros grandes mercados, acostumados aos lançamentos simultâneos da Netflix e HBO. Ainda mais quando se trata de uma marca com o apelo de Star Wars.
Sérgio Alpendre