*esta pérola é contra-indicada a quem não for ao menos simpático ao antigo seriado Agente 86. Se você só conhece a atualização com Steve Carrell, procure conhecer o original.

Para fazer a última lista publicada aqui no Olhar Digital, das comédias disponíveis no catálogo da Amazon Prime, deparei-me com o telefilme Agente 86: De Novo, dirigido por Gary Nelson em 1989. A curiosidade foi tamanha. Tive de revê-lo.

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É estranho ter um telefilme antigo num catálogo de streaming. Ainda mais porque a imagem é da TV da época, ou seja, falta definição e as cores estão esmaecidas. Mas é inevitável pensar que tal personagem, criado por Mel Brooks e Buck Henry, fez parte da infância de muitos que hoje tem mais de 40 anos, e que ainda pode nos fazer rir, sobretudo pela habilidade do ator Don Adams, tão marcado por esse papel que não fez mais nada de muito importante em cinema ou TV.

Mas sejamos claros: o seriado Agente 86, veiculado entre 1965 e 1970, está entre os melhores já produzidos pela TV americana (e é a indesculpável ausência do livro 1001 Séries para Ver Antes de Morrer). Se todas as tentativas de reviver as situações que marcaram essa época e os personagens por trás delas foram bem inferiores, é menos porque falta graça a elas do que pela imensa qualidade do material original, principalmente nos anos de 1966 e 1967, quando o seriado estava no auge.

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Em Agente 86: De Novo, a Kaos aparece com uma nova ameaça ao mundo: uma máquina capaz de controlar o tempo. Provocam neve em espaços fechados, terremotos, tornados, chuvas ácidas e outras atrocidades da ou contra a natureza, tudo pelo velho objetivo de dominar o mundo. Com isso, o Serviço Secreto norte-americano resolve chamar um velho inimigo da Kaos, Maxwell Smart, que, por sua vez, pede que o Controle, para onde trabalhava, seja reativado, com a maior parte da equipe original. 

E assim podemos matar saudades não só da Agente 99 (Barbara Feldon), como do agente 13, que se esconde em armários, de Hymie (Dick Gautier), o robô, de Larrabee (Robert Karvelas), o bobão, assim como do hilário vilão Siegfried (Bernie Kopell), um dos principais da Kaos, e seu capanga Shtarker (King Moody). Pena que Edward Platt, que interpretava o chefe do Controle, havia falecido em 1974.

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O medíocre Gary Nelson (Se Eu Fosse Minha Mãe, 1976; Allan Quaternain e a Cidade do Ouro Perdido, 1986) proporciona uma direção funcional, voltada ao brilho dos comediantes e ao melhor entendimento das piadas, visuais ou verbais. Ele faz o certo: não atrapalha as piadas escritas por Leonard Stern, roteirista de alguns episódios da série e do longa para cinema A Bomba que Desnuda, de 1980, com o mesmo Agente 86.

Apesar de não chegar aos pés dos melhores momentos do seriado (que algum serviço de streaming deveria disponibilizar), este longa para a TV ainda é capaz de proporcionar boas risadas, mesmo com as velhas piadas requentadas – o cone do silêncio, o sapatofone, “E, vou adorar”, “Errei por um tantinho assim”, “O velho truque do…” e outros bordões. Há, sobretudo, um momento estupendo de humor na câmara do silêncio, em que as palavras faladas aparecem escritas na tela, para a leitura dos interlocutores.

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O telefilme pode não ser uma pérola, como outras que elencamos aqui, mas é certamente digno de uma descoberta, pelo inusitado de estar no catálogo, por momentos sublimes como esse descrito no parágrafo anterior e pelo grande humorista que é Don Adams.