Nova plataforma de streaming começa devagar

Filme vem com catálogo variado, mas não muito
Redação07/03/2020 02h47

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Megaprojetos

Já se noticiou bastante a chagada do Filme Filme, nova plataforma de streaming em que o espectador não paga assinatura, mas paga pelo aluguel dos filmes, como em uma locadora. Outras plataformas irão surgir, pois é o futuro do home video, sem dúvida. Mas o que chama a atenção, nesse caso específico, é a fragilidade do catálogo.

O Filme Filme divulga os filmes que entram na primeira semana, divididos em três seções voltadas para festivais, documentários e produções populares. Pensamos: ok, produções populares para contrabalançar os quitutes que podem pintar nas outras seções, ainda que tenham sido denominadas da maneira mais óbvia possível.

Mas então vemos os selecionados, primeiro na categoria “Festivais”, onde encontramos, por exemplo, “Central do Brasil”, de Walter Salles, com Fernanda Montenegro. É um filme que foi indicado ao Oscar. Ou seja, um filme popular como “Central do Brasil” não está na seção “Populares”, mas na seção “Festivais”, aquela em que se esperava encontrar possíveis diamantes que muitas vezes não chegam aos cinemas de circuito, nem às plataformas de streaming. Se ao menos fosse um bom filme, vá lá, mas é apenas popular, nada mais.

Mesmo “Gabriel e a Montanha” e “Aos Teus Olhos” estão mais perto dos populares do que de um tipo de filme que só poderíamos ver em festivais. O segundo traz Daniel de Oliveira como um professor de natação acusado de pedofilia.

Completando, “120 Batimentos por Minuto”, de Robin Campillo, não é popular, certo, mas estreou nos cinemas, foi bem comentado, não é o tipo de filme difícil de ver. Ainda assim, é um filme que vale ser visto.

A seção “Documentários” é um pouco melhor, ao menos na questão de filmes menos óbvios. Talvez seja a única razão, por enquanto, para entrar nessa plataforma. Nela temos quatro filmes interessantes, se não realmente bons: “Eu Não Sou Seu Negro “, “Divinas Divas”, “Maria Callas” e “De Peito Aberto”. Os dois primeiros ganham natural destaque, pelos temas e, no caso do segundo, também pela estreia de Leandra Leal na direção.

Aí vem a seção populares, que conta com o bom terror “Morto Não Fala”, de Dennisson Ramalho. Estranho estar entre os popupares, mas o fato é que se trata de um bom filme, provavelmente o melhor de todo o catálogo. Daniel de Oliveira protagoniza, o que talvez justifique a entrada na seção.

Quanto aos outros, não se pode dizer que sejam bons, nem que sejam mais populares que “Central do Brasil”, o que denota uma certa deficiência nos critérios das seleções. “Um Banho de Vida” é filme francês médio para espectadores que não querem fazer esforço mental algum. “O Grande Circo Místico” é o desengonçado longa recente de Carlos Diegues. E “Sequestro Relâmpago” mostra Tata Amaral numa encruzilhada criativa das mais severas.

O que espanta ainda mais é que essa seleção seja anunciada como o resultado das escolhas de especialistas. Esperamos então que esses especialistas revelem-se merecedores de tal denominação, porque por enquanto as escolhas revelam que qualquer um poderia elaborar um catálogo melhor. Basta conhecer cinema minimamente.

* Sérgio Alpendre é crítico e professor de cinema

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital