O cinema contemporâneo tem o vício de evitar o melodrama a qualquer custo, mesmo que o custo seja a frieza do filme ou seu fracasso na comunicação com o público.

Bem, não se pode dizer isso de Karim Ainouz em seu mais recente longa, A Vida Invisível, o indicado brasileiro a uma vaga no Oscar de filme em língua estrangeira, que acaba de estrear nos cinemas brasileiros. O diretor, pela primeira vez em sua carreira, abraça o melodrama sem entraves ou vergonhas.

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Se O Céu de Suely disfarçava seu teor melodramático com uma câmera inquieta e uma crueza naturalista no tratamento do sexo, A Vida Invisível, baseado em A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, livro de Martha Batalha, evita os disfarces, mesmo que o sexo naturalista exista em algumas cenas. O tema falou mais alto, e o tema pedia um tratamento melodramático, na linha de Douglas Sirk e Vincente Minnelli.

Acompanhamos a história de duas irmãs, Guida (Julia Stockler) e Eurídice Gusmão (Carol Duarte), que se separam no início da juventude porque a primeira era atirada e aventureira enquanto a segunda não tinha forças para perseguir o sonho de estudar piano em Viena.

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É principalmente o Rio de Janeiro dos anos 1950 que vemos no filme, e fica claro o machismo e o atraso da sociedade brasileira daquela época, um atraso que nos prende e insiste em retornar com força.

Guida sofre o diabo quando vai atrás de um amor que se revela uma furada. Volta com um filho na barriga e não é aceita pelo pai português, que a expulsa de casa. Eurídice, por sua vez, casa-se com um homem tosco chamado Antenor (Gregório Duvivier) e acaba aceitando, por medo e insegurança, a vida de dona de casa típica das mulheres da época.

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Na saída da sessão, não eram poucos os espectadores que comentavam sobre a tristeza que percorre todo o filme. A Vida Invisível é, de fato, um filme muito triste, quase sem esperança, daqueles que mostram o que é ser mulher num país atrasado.

Mas é levado com habilidade por um diretor amadurecido, que aposta numa encenação elegante e no trabalho exemplar das duas atrizes principais (Julia Stockler, principalmente, arrebenta, mas sua personagem permite maiores voos) e por isso faz seu melhor filme.

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Fernanda Montenegro, atriz emblemática que andou sendo desrespeitada por gente que fugiu da escola, aparece muito pouco, mas suas cenas respondem pelo maior número de lenços usados durante a projeção.