A tecnologia e os roteiros da Netflix, da Disney, da HBO, da Amazon…

Cada vez mais, os computadores influenciam como os conteúdos são produzidos
Wharrysson Lacerda07/08/2019 05h43

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Megaprojetos

Os serviços de streaming, sobretudo o mais popular, Netflix, são reconhecidamente o terreno das séries e minisséries. Stranger Things talvez tenha sido a divisora de águas dentro dessa prática do algoritmo que coordena as produções, com cada movimento da narrativa sendo calculado para agradar o maior número de fãs.

Mas há uma questão de afirmação importante nesse setor: a produção de longas-metragens de prestígio. A Amazon ganhou destaque quando lançou, em 2017, o belíssimo Roda Gigante, de Woody Allen, antes do diretor se tornar maldito. A Netflix não ficou atrás e lançou outro longa prestigiado: Roma, de Alfonso Cuarón, ganhador do Oscar de melhor filme em língua estrangeira.

Notou-se, há muito em Hollywood, que filmes dirigidos por cineastas premiados são muito importantes para o fortalecimento de uma marca. Fox, Warner, Universal e todos os estúdios de médio ou grande porte sabem disso e se esforçam para manter em seu catálogo filmes que podem não atrair tanta bilheteria, mas atraem prestígio.

Com o streaming não poderia ser diferente, e por isso as empresas apostam em produções assinadas e/ou interpretadas por grandes nomes do cinema. Nem sempre dá certo. Podemos lembrar, por exemplo, de Bird Box, dirigido por Susanne Bier e protagonizado por Sandra Bullock. A publicidade não foi suficiente para compensar o boca a boca negativo nas redes sociais.

Talvez o filme nodal para a experiência do streaming, aquele que será o divisor de águas capaz de afastar a ameaça de crise que ronda a Netflix seja The Irishman, o novo longa de Martin Scorsese (com estreia marcada para 27 de setembro no New York Film Festival), pelo qual a empresa pagou uma bolada.

O segundo grande encontro de Al Pacino com Robert De Niro, após o magistral Fogo Contra Fogo (Michael Mann, 1995), é aguardado com extrema ansiedade, não só por fãs dos atores e/ou de Scorsese. Se for bom, e assim for reconhecido, o que é mais provável considerando-se os nomes envolvidos no projeto, dará um retorno de imagem incalculável.

Porque Martin Scorsese é um dos maiores autores do cinema americano. Falando de maneira publicitária, a grife Scorsese foi responsável por garantir que o diretor filmasse, por exemplo, Os Bons Companheiros (1990), cujo alto custo não daria para a Warner, que o bancou, o mesmo retorno que teve com Batman (1989). A Warner não se incomodou com isso porque o retorno de prestígio era certo.

Por mais que o mundo do entretenimento tenha mudado, algumas coisas permanecem iguais. Essa grife, ainda valorizada pelo Oscar que o diretor ganhou em 2006 por Os Infiltrados (justamente um filme de gangster, como Os Bons Companheiros e The Irishman), terá o poder de valorizar a marca Netflix, tornando-a mais vendável e, consequentemente, acirrando a disputa do streaming.

Por outro lado, se tivermos um mau filme, ou um Scorsese menor (favor bater três vezes na madeira), que desaponte seus admiradores e não conquiste novos adeptos, não só a ameaça de crise continuará como as empresas que apostam no streaming poderão pensar mil vezes antes de bancar superproduções autorais, e portanto mais arriscadas. Afinal, sempre vai ficar no ar a ideia de que a Netflix enfraqueceu Scorsese.

Sérgio Alpendre

Editor(a) chefe

Wharrysson Lacerda é editor(a) chefe no Olhar Digital