A encruzilhada do streaming no Brasil

Concorrência cresce com a chegada de novos serviços ao país e quem ganha é o usuário, cada vez com mais opções para escolher o que mais lhe agrada
Cesar Schaeffer23/08/2019 19h38

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Megaprojetos

Nem só de Netflix vive o usuário de streaming. Existem diversas outras plataformas que aos poucos vão ocupando o espaço e diminuindo o poder da empresa milionária que apostou no formato antes de todo mundo e já colheu os louros por isso.

A entrada forte do Telecine na parada veio chacoalhar ainda mais um mercado com diversas outras opções, para quase todos os gostos. E o Telecine surge com um catálogo forte, maior do que o disponível no Now, quando se entra no canal.

Mas se as opções variam, o cardápio de filmes clássicos ainda é muito limitado. Nos EUA, o streaming da Criterion Collection supre o espectador de filmes que já passaram pela prova do tempo. Por aqui, temos alguns clássicos espalhados pelo Telecine, além de poucos deles na HBO, na Amazon Prime e na Netflix (ainda sim, uns clássicos mais novos, discutíveis).

O MUBI, por exemplo, é bem popular entre descolados e cinéfilos mais exigentes. É um serviço de qualidade, mas disponibiliza apenas 30 filmes de cada vez. Todos os dias um filme entra e outro sai do catálogo. Ali, o espectador vai encontrar desde os filmes do cultuado casal Jean Marie Straub-Danielle Huillet (Cedo Demais, Tarde Demais, 1982, Relações de Classe, 1984) até alguns filmes brasileiros recentes, como Arábia (2017). A ideia é interessante porque os administradores apostam na qualidade, não na quantidade.

Se são poucos os clássicos disponíveis, ao menos sabemos que sempre terá algum deles para ver. No momento, o espectador pode escolher entre Zaroff – O Caçador de Orelhas (1932), dos mesmos diretores do clássico King Kong de 1932 ou O Martírio de Joana D’Arc (1928), do cineasta dinamarquês Carl Theodor Dreyer, um dos mestres de Ingmar Bergman. Há ainda Papai é do Contra (1954), longa da primeira fase (pré-épicos) do diretor inglês David Lean.

Mas o forte da seleção mubiana é a seleção de filmes europeus de prestígio, no momento os franceses, como os de Jean-Luc Godard (Paixão, 1982, Salve-se Quem Puder, 1980), ou de Philippe Garrel (L’Enfant Secret, 1979).

O Telecine já aposta na quantidade, como todos os outros, mas tem um acervo que busca também a qualidade, onde cabem, além dos clássicos americanos, muitas joias europeias. O francês François Truffaut, por exemplo, está presente com sete filmes. O sueco Ingmar Bergman também tem sete, além de um documentário sobre sua vida e obra. Se o cinéfilo preferir ver um clássico suspense, pode escolher entre seis filmes de Alfred Hitchcock. É pouco, dada a popularidade do mestre, mas é bem mais que o disponível nas outras plataformas, ou seja, zero.

Mas obviamente não tem só clássicos dentro do streaming do Telecine. O espectador encontrará também filmes atuais como o bom terror Parque do Inferno, A Mulher Maravilha ou o ótimo Infiltrado na Klan, de Spike Lee. Além de vários outros sucessos que estreiam ou não nos canais pagos da marca. Só não tem produções originais.

HBO, Netflix e Amazon duelam pelas séries e filmes originais. A Netflix tem produções espalhadas pelo mundo, o que garante uma boa variedade e até certo exotismo. Mas é a mais fraca para quem acha que o cinema bom é o cinema de outros tempos. HBO aposta num conteúdo mais adulto, assim como a Amazon.

A sensação é que a entrada forte do Telecine no streaming, entre outras mais que devem surgir num breve futuro, provocou um rebuliço no setor, sobretudo na acomodada Netflix. Como já escrito nesta seção, o lançamento de The Irishman, novo filme de gangsters de

Martin Scorsese, será uma cartada e tanto da Netflix. Mas sabemos que não tem como ser definitiva. É preciso diversificar, para não perder o bonde. Talvez o segredo esteja nos clássicos, nos filmes mais intelectualizados, ou seja, na conquista de um público mais cativo.

A batalha do streaming só começou.

por Sérgio Alpendre

Redator(a)

Cesar Schaeffer é redator(a) no Olhar Digital