Se o prêmio para melhor filme estrangeiro dado a “Parasita” indicava que o filme sairia dali sem muitas chances de alguma outra coisa, houve a surpresa da premiação como melhor diretor para Bong Joon-ho, desbancando o favorito Sam Mendes. Quentin Tarantino era quem ameaçava beliscar, mas a entrada de Spike Lee para anunciar o prêmio da categoria já indicava que não iria para o diretor de “Era Uma Vez em Hollywood”.

Eis que, após os prêmios para ator e atriz, vai ao palco Jane Fonda, ativista anti-Trump, vestida de vermelho, anunciando que alguma surpresa estava para acontecer. E aconteceu. O principal prêmio da noite, pela primeira vez na história do Oscar, foi para um filme não falado em inglês.

O coreano “Parasita”, de Bong Joon-ho, é claramente superior a “1917”, de Sam Mendes. Mas cansamos de ver, mesmo em períodos melhores para a premiação, filmes inferiores levando os prêmios principais. Por isso a consagração do sul coreano na reta final, acumulando ao todo quatro prêmios (roteiro original, filme estrangeiro, direção e melhor filme), não deixa de ser uma grata surpresa e um sopro de novidade nas tão previsíveis cerimônias do Oscar.

A presença de pessoas coreanas no palco no final da premiação é uma surpresa maior que “Moonlight” tirando o prêmio certo para “La La Land” no último minuto, ou que “Crash”, saudado por Jack Nicholson com um “uau! ‘Crash'”, quando todos esperavam que fosse para o infinitamente superior “O Segredo de Brokeback Mountain”.

Nas outras duas categorias principais, ator e atriz, não houve surpresa. Renée Zellweger ganhou pelo desempenho no sofrível “Judy”, comédia involuntária sobre uma rainha da Hollywood clássica, Judy Garland. Joaquin Phoenix ganhou por “Coringa”, sendo mais um ator ótimo a conquistar o prêmio por uma atuação exagerada e descontrolada (por erro do diretor, Todd Philips).

Em longa documentário, como esperado, “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa, perdeu para “Indústria Americana”, de Steven Bognar e Julia Reichert. Mas o filme brasileiro representou bem a resistência a um governo que tenta destruir a arte e a cultura em movimentos nefastos e desajeitados, sem que haja uma oposição competente para afastá-lo.

Uma breve nota sobre a cerimônia como um todo: me pareceu ainda mais enfadonha do que em anos anteriores, mas a abertura com Janelle Monae, uma das maiores artistas deste século, coloca o sarrafo muito alto, e seria impossível manter o nível. 

* Sérgio Alpendre é crítico e professor de cinema