O aniversariante da semana é um diretor americano parcialmente tolhido da máquina hollywoodiana neste século 21.
Trata-se de Brian De Palma, 79 anos em 11 de setembro, cineasta responsável por obras imensas como Carrie – A Estranha (1976), Vestida para Matar (1980) e Dublê de Corpo (1984), filmes responsáveis pela associação entre o diretor e o mestre do suspense Alfred Hitchcock, do qual seria uma espécie de herdeiro ou pasticheiro.
Está na raiz da poética de De Palma uma intensa investigação sobre a força da imagem. Em seus filmes, uma imagem sempre esconde uma outra imagem. Nesse sentido, não só Hitchcock, mas também o Antonioni de Blow Up (1966) seria uma influência importantíssima em sua obra, como é evidente em Um Tiro na Noite (1981), com John Travolta, um de seus melhores filmes, cujo nome original é Blow Out.
De Palma pertence à geração dos jovens diretores que arrombaram as portas de Hollywood no final dos anos 1960 trazendo histórias de violência e muito rock’n’roll. Ao lado de Francis Ford Coppola e Martin Scorsese, compõe o trio de ferro da chamada Nova Hollywood.
Após alguns filmes de juventude e um filme mutilado pelo estúdio, O Homem de Duas Vidas (1972, com Orson Welles), De Palma finalmente entra para o primeiro time do cinema americano da época com Irmãs Diabólicas (1973), em que aperfeiçoa a técnica do split screen (a tela dividida), popularizada no final dos anos 1960.
No ano seguinte, realiza sua vingança contra Hollywood: O Fantasma do Paraíso, em que o dono de uma gravadora faz um pacto com o diabo e rouba músicas de compositores para seu próprio proveito. Basta trocar o mundo da música pelo mundo do cinema e temos a vingança realizada.
1976 foi o ano de sua consagração, com dois filmaços: Trágica Obsessão, que remete a Um Corpo que Cai (Alfred Hitchcock, 1958) e a Rastros de Ódio (John Ford, 1956), estabelecendo sua relação com o cinema clássico americano, e Carrie – A Estranha, provavelmente a melhor adaptação de Stephen King (ao lado de O Iluminado, de Stanley Kubrick, 1980). A Fúria(1978) é uma espécie de filme irmão de Carrie, e é quase tão bom quanto, com cenas em câmera lenta (outra de suas especialidades) absurdamente bem filmadas.
Ainda nos anos 1980 realiza o violentíssimo remake de Scarface (1983), seu primeiro trabalho com Al Pacino, o subestimado Quem Tudo Quer Tudo Perde (1986), o sublime Os Intocáveis (1987), talvez o seu filme mais próximo do clássico, e o discutível Pecados de Guerra (1989), que dá início a uma fase de incertezas em sua carreira.
Alguns bons filmes se seguiriam nos anos 1990, mas só com o terceiro deles, O Pagamento Final (1993), em que reencontra Al Pacino em um novo filme de gangsters, De Palma volta a ser considerado de primeiro nível. A partir de Missão: Impossível (1996), porém, volta a ser questionado em Hollywood, a despeito de grandes filmes como Olhos de Serpente(1998) e Missão: Marte (2000).
Neste século, foi duramente prejudicado pelo “encaretamento” de Hollywood. Dinheiro de produtores europeus permitiram que filmasse ainda uma última obra-prima, Femme Fatale (2002), embora muitos considerem que o cineasta nunca mais foi o mesmo após O Pagamento Final, o que é muito injusto. Dália Negra (2006), Guerra Sem Cortes (2007) e Paixão (2012) tentam resgatar a velha verve, sem muito sucesso, a despeito de serem também bons filmes.
Seu último trabalho, Domino (2018), é considerado um fiasco por muitos fãs, que reclamaram da falta de liberdade a que o cineasta foi submetido.