Entre as estreias da semana, dois filmes se destacam automaticamente. Um é inglês e mostra uma realidade paralela em que os Beatles não existem. Outro é brasileiro, já premiado em Cannes, com Sônia Braga no elenco e uma outra espécie de realidade paralela, menos musical, mais política. “Yesterday“, de Danny Boyle, e “Bacurau“, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, são esses filmes.

Bacurau” mostra o cotidiano de uma vila que repentinamente, após a morte de uma ilustre cidadã muito querida pelos moradores, fica fora do mapa. Apesar de ser um filme de gênero, o conteúdo assume obviamente um viés político no Brasil de 2019. Kleber Mendonça Filho realizou curtas importantes na década passada, mas nos longas tem sido irregular. Se “O Som ao Redor” tem uma força que se esvai parcialmente em revisões, mas mantém-se ainda um filme com momentos impactantes, “Aquarius” é ainda mais irregular, sobretudo pela frágil direção de atores. Esperemos que em “Bacurau“, codirigido por Juliano Dornelles, tenha acertado definitivamente a mão. Precisamos de mais bons cineastas autores.

Yesterday” tem um problema sério de base: seu diretor. Danny Boyle só tem um filme digno em sua carreira, o distante “Cova Rasa”, seu primeiro longa para cinema, de 1994. Ao desenvolver essa premissa para lá de interessante, com roteiro do incompetente Richard Curtis, sobre um mundo sem os Beatles, poderia ter enveredado pelos meandros interessantes abertos pela premissa e criado um filme divertidíssimo. 

Não é o que acontece. “Yesterday” se torna previsível muito rapidamente, com uma única ideia sendo requentada até a exaustão. Como o crítico português Luís Miguel Oliveira escreveu, é “verdadeiramente péssimo, uma peça de quinquilharia pop plastificada, com a profundidade cultural dos concursos de talentos da televisão”. Uma pena.

As outras estreias são menos animadoras ainda. O francês “Minha Lua de Mel Polonesa“, de Élise Otzenberger, tropeça na falta de graça e num tom que pode ser considerado desrespeitoso.

Já os brasileiros (e ainda não vistos por este redator) “O Filho do Homem” (Alexandre Machafer), “A Mulher do Meu Marido” (Marcelo Santiago, com Luana Piovani) e “O Amor Dá Trabalho” (Ale McHaddo, com Leandro Hassum) não despertam muita confiança. A ver e torcer para sermos surpreendidos.

Há ainda o francês “Anna – O Perigo tem Nome“, em que Luc Besson explora mais uma vez seu gênero preferido, o filme de ação, e o americano/canadense “Verão de 84”, o terror da semana, com tripla direção.