No cinema atual, diz uma regra estúpida e muito frequente que cada plano deve ter, no máximo, 5 segundos. Ou seja, a distância entre um corte e outro não pode passar desse tempo, sob o risco de entediar o espectador. Em filmes de ação, a regra muda para três segundos, por vezes até dois segundos.
Sergei Eisenstein fazia muitos planos de dois segundos, porque acreditava na força da sucessão entre os planos para criar cenas fortes e capturar a atenção do público. Mas seus planos eram construídos visualmente por um gênio da direção de fotografia chamado Eduard Tisse. Com isso, o espectador não esquecia o primeiro plano de uma sequência mesmo que depois dele viessem outros vinte ou trinta planos.
O caso de A Batalha das Correntes, de Alfonso Gomez-Rejon, é curioso. O filme respira “cinema de qualidade”, num sentido um pouco quadrado do termo. Tudo é calculado para lhe dar importância, prestígio. O tema é importante e a direção chama a atenção para isso o tempo todo. O que acontece nessas situações é, quase que invariavelmente, um filme sem vida, sem alma, sem sal. Ainda mais porque ele parece seguir essa regra dos cinco segundos quase durante todo o tempo. Não por acaso, quando não segue, o filme cresce, como num diálogo em uma ponte ou em alguns raros momentos de intensificação do drama (talvez o grande momento do filme seja a colagem de imagens de Muybridge, que irão inspirar Edison a criar o cinetoscópio e servem como um interlúdio e uma piscadela para cinéfilos e historiadores).
Apesar de atores fortes como Benedict Cumberbatch (novamente como um cientista, desta vez, Thomas Edison, após o papel que o revelou, do matemático Alan Turing) e Michael Shannon (como seu rival, George Westinghouse, num raro papel de homem sensato) mais a presença dos graciosos Tom Holland (como assistente de Edison) e Katherine Waterston (como esposa de Westinghouse), o filme nunca decola de fato. Mesmo que a câmera se movimente freneticamente (e muitas vezes desnecessariamente) por causa desse duvidoso senso de dinamismo, e mesmo que cenas importantes como a do encontro definitivo entre Westinghouse e Nikola Tesla sejam filmadas como se fossem um programa televisivo de má qualidade.
A tal da batalha, como o título brasileiro (e o original também) indica, é entre a corrente alternada, defendida por Westinghouse, e a corrente contínua, sustentada por Edison. Dessa fricção das duas últimas décadas do século 19 surgiram avanços no campo elétrico que prepararam o mundo para os avanços técnicos do século 20. A batalha ainda inspirará o nome de uma grande banda de rock iniciada nos anos 1970. Quem pensou em AC/DC acertou (Alternating Current/Direct Current, com um pequeno raio no meio).
O peso da história e a importância dos personagens, sobretudo de Edison, que se envolveu também com os primórdios do cinema (além de se confirmar como um vilão na exploração do filme em película a partir da virada do século), dá um certo peso à narrativa. Ironicamente, esse peso ajuda a impedir a decolagem do filme. Tudo é levado como um grande tema, e os momentos de leveza soam falsos porque parecem impostos pela mesma noção de ritmo que dita a regra mencionada no primeiro parágrafo, assim como por vezes o filme parece um trailer demasiadamente alongado, como na corrida pelas cidades que buscavam um dos dois tipos de energia elétrica.
Sob a importância do tema, sobra muito pouco para a invenção. Gomez-Rejon não soube evitar essa armadilha.