Com temperaturas de até 464⯰C e pressão atmosférica 92 vezes maior que a da Terra ao nível do mar, a superfície de Vênus é um ambiente caótico que desafia iniciativas de exploração espacial do planeta. Agora, uma nova proposta sugere um conceito de missão para ajudar a investigar o mundo venusiano: uma sonda espacial pendurada quilômetros abaixo de um balão massivo.
Batizada de Calypso Venus Scout, a missão foi apresentada para o programa Planetary Science and Astrobiology Decadal Survey 2023-2032, da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. A instituição recebe materiais da comunidade científica com conceitos que podem apoiar projetos de pesquisa de ciência planetária e astrobiologia.
O novo conceito visa solucionar dois desafios para estudar Vênus. A superfície do planeta é muito quente e impõe dificuldades para a operação de sondas terrestres, já camadas de nuvens densas impedem que missões orbitais promovam medições precisas do solo.
A proposta da Calypso Venus Scout consiste em posicionar um balão um pouco acima das nuvens, a uma altitude estimada de 50 quilômetros. Uma vez posicionado, o equipamento liberaria um módulo preso por um cabo de 15 a 30 quilômetros de comprimento. A ideia é que a sonda chegue a uma altitude abaixo das nuvens densas da atmosfera e possa promover uma observação precisa da superfície do planeta por meio de sistemas de ondas infravermelhas.
Estudo de cientistas da agência espacial japonesa JAXA indicou recentemente que uma gigantesca nuvem venenosa varre a superfície de Vênus em intervalos de poucos dias. Imagem: Jaxa
A temperatura neste nível seria significativamente mais amena, em torno de 130⯰C, estima o projeto. Ainda assim, um possível aquecimento do interior no módulo poderia ser um problema. Neste caso, a missão propõe recolher o cabo e elevar a sonda para uma altitude segura, além de aproveitar esse tempo de recuperação para transmitir os dados coletados para a Terra. Uma das principais vantagens do modelo é que o balão poderia se deslocar com os ventos da venusianos para promover o mapeamento de amplas faixas da superfície do planeta.
Exploração
Apesar de Vênus ser vizinho da Terra, poucas missões espaciais se propuseram a explorar o planeta. A Venera 14, do programa espacial russo Venera, foi a última sonda a pousar na superfície do astro, em 1982. A espaçonave, inclusive, superou as expectativas de cientistas e ‘sobreviveu’ por 57 minutos no ambiente.
Mesmo diante das dificuldade de exploração espacial, a ciência ainda consegue desvendar características importantes sobre o planeta. Com telescópios, pesquisadores da Sociedade Astronômica Real no Reino Unido detectaram moléculas de Fosfina (PH3) na atmosfera de Vênus. A descoberta levantou a hipótese de que as moléculas indicam uma assinatura biológica.
Os estudos do planeta vizinho também podem revelar novos conhecimentos sobre a Terra e o Sistema Solar. Como lembra o site Space, há bilhões de anos, Vênus apresentava características semelhantes ao nosso planeta, com oceanos de água líquida e uma atmosfera agradável. Astrônomos acreditam, no entanto, que um acúmulo descontrolado de dióxido de carbono na atmosfera transformou o astro no planeta caótico que conhecemos.
Os Estados Unidos e a Rússia planejam se unir em uma reedição do programa Venera, que deve enviar uma sonda a Vênus até 2031. A agência russa Roscosmos também anunciou recentemente que vai conduzir missões independentes para a exploração do planeta. Enquanto isso, a companhia norte-americana Rocket Lab planeja realizar a primeira missão espacial privada para Vênus até 2023.
Via: Space