Desde a década de 70 os pesquisadores estudam os chamados “super-raios”, descargas elétricas que são mais de 100 vezes mais intensas que um raio comum. Mas um novo estudo realizado por pesquisadores do Laboratório de Los Alamos, nos EUA, revelou que este fenômeno pode ser ainda mais extremo: foram detectados super-raios com intensidade 1.000 vezes maior do que a média.
“Queríamos ver quais eram os verdadeiros limites dos super-raios”, disse o cientista atmosférico Michael Peterson ao Washington Post. “É uma questão de quão grandes e brilhantes eles podem ser”.
Determinar o que é ou não um super-raio é uma tarefa difícil porque os dados registrados por instrumentos no solo podem ser diferentes dos detectados por satélites. Isso porque a cobertura de nuvens em uma tempestade pode fazer com que o raio, aos olhos do satélite, pareça menos brilhante do que visto do solo.
Um super-raio com duração de quase 7 segundos sobre o sudeste dos EUA capturado pelo Geostationary Lightning Mapper em 2019. Imagem: Michael Peterson/Los Alamos National Laboratory)
Peterson e sua colega Erin Lay analisaram dados do Geostationary Lightning Mapper (GLM, Mapeador de Raios Geoestacionário), instrumento a bordo de um satélite meteorológico que a cada 2 milissegundos monitora as Américas, do Alasca à Terra do Fogo, em busca de raios.
Os pesquisadores analisaram dois anos de dados do GLM, filtrando as ocorrências com intensidade superior a 100 vezes a de um raio comum. Foram encontrados 2 milhões de super-raios, ou uma em cada 300 descargas. Mas quando ajustaram o filtro para eventos com intensidade superior a 1.000 vezes, encontraram uma concentração deles na região central dos EUA e na bacia do Rio da Prata, na América do Sul.
Os dados foram correlacionados aos de um segundo estudo da mesma equipe, que analisou 12 anos de observações de satélite e classificou os raios por sua potência de pico, definindo como “super-raios” os que tem mais de 100 gigawatts, o equivalente a todos os painéis solares dos EUA combinados.
Superpotentes
“Um raio ultrapassou os 3 terawatts de potência — milhares de vezes mais forte do que raios comuns detectados do espaço”, disse Peterson. Combinando os dados de satélite com observações em solo, os pesquisadores descobriram que os super-raios são um tipo diferente de fenômeno.
Os mais poderosos (com mais de 350 gigawatts de potência) foram resultado de descargas de nuvens carregadas positivamente para o solo, algo raro. Na maioria dos raios as descargas partem de nuvens carregadas negativamente.
Imagem do raio mais longo do mundo, com 709 km de extensão, registrado sobre o Brasil em 2018. Foto: Organização Meteorológica Mundial
Os resultados também mostraram que os super-raios são mais comuns sobre o oceano, e se originam de megaflashes, raios que podem se estender horizontalmente na atmosfera por centenas de quilômetros de ponta-a-ponta. Um destes ocorreu no Brasil em 2018, e se estendeu por 709 quilômetros.
“Sistemas de tempestade oceânicos, especialmente os localizados ao redor do Japão durante o inverno, são conhecidos por produzir estes super-raios mais intensos”, dizem os pesquisadores.
“Será um feito importante para a comunidade de pesquisadores de eletricidade atmosférica reconciliar os principais eventos gravados por vários instrumentos ópticos (em satélites) e de rádio-frequência no solo e chegar a um consenso do que é, e o que não é, um super-raio”, disseram os pesquisadores.
Fonte: Science Alert