Para escritor, colonizar Marte permitiria “criar um backup da humanidade”

Redação28/01/2016 18h33

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Hoje durante a Campus Party, o jornalista científico e escritor Salvador Nogueira falou sobre a possibilidade da humanidade visitar – e, em seguida colonizar -, o planeta vermelho. Embora ele acredite que a colonização de Marte ainda seja um “sonho distante”, considera que é algo muito provável de se acontecer no futuro – talvez ainda neste século.

Isso porque, segundo Nogueira, Marte é o planeta mais parecido com a Terra no planeta solar. Em termos de dimensões, ele é semelhante ao nosso planeta, e sua superfície tem aproximadamente a mesma área que os continentes terrestres.

Sua gravidade, no entanto, é 40% menor que a da Terra, seus dias são apenas 39 minutos mais longos que os nossos, e seus anos possuem 687 dias – mais ou menos dois anos terrestres. E sua temperatura média é -63ºC – mais frio que o lugar mais frio da Terra – embora, de dia, o planeta possa ser tão quente quanto o nosso.

Historia marciana

Marte começou a ser pesquisado por Giovanni Schiaparelli, um astrônomo italiano, no fim do século XIX. Schiapanelli imaginou que que o planeta tivesse canais naturais de água, por conta de riscos que observou em sua superfície. Percival Lowell, um estadunidense da mesma época, acreditou que esses canais eram construções artificiais feitas por marcianos, para levar água dos pólos do planeta até sua região equatorial. Os marcianos, para ele, seriam uma civilização decadente lutando para preservar a vida em seu planeta.

Com o tempo, essa história se revelou falsa. A Mariner 4 em 1964 foi a primeira sonda a passar perto do planeta, ejogou um “balde de água fria”, segundo Nogueira, nos que esperavam encontrar uma civilização marciana. Soube-se então que o planeta era muito mais semelhante à Lua que à Terra.

Em 1971, a sonda Mariner 9 confirmou que o planeta possuía água pelo menos em seu passado remoto. ISso motivou as missões Viking 1 e 2 que, em 1976, realizaram os primeiros pousos bem sucedidos no planeta. Alguns cientistas, como Carl Sagan, acreditavam que não se podia descartar de antemão que houvesse animais em Marte, e por isso uma das especificações das câmeras das sondas era de que elas fossem capazes de detectar movimento.

Para verificar a existência de vida microbiana no planeta, as Vikings levaram quatro equipamentos experimentais. Os resultados, no entanto, foram inconclusivos, e mais informações sobre a atmosfera e a possibilidade de vida em Marte só viriam muitos anos depois.

Em 2001, a Mars Odyssey conseguiu aferir que o planeta vermelho ainda possui muita água na forma de gelo em seu subsolo. A Mars Express, em 2003, conseguiu medir a atmosfera do planeta, detectando metano – um sinal de vida. Em 2004, mais provas da existência de grandes corpos de água no passado de Marte surgiram.

E em 2015, imagens da Mars Recoinnaissance Orbiter, que mapeou o relevo do planeta em alta resolução, mostraram riscos que aparecem e desaparecem sazonalmente na superfície do planeta. Isso é evidência de que ainda hoje a água do planeta descongela e flui pela superfície de Marte, graças à alta concentração de sais em sua composição.

Atualmente, a sonda Curiosity está na cratera Gale do planeta, explorando as rochas sedimentares do planeta. Compostas por diversas camadas de minério, essas rochas acabam contando a história geológica de Marte, e a grande missão da sonda em Marte é procurar moléculas orgânicas. Até agora, porém, ela só encontrou tais moléculas numa quantidade muito pequena, que poderia ter chegado ao planeta via um cometa, por exemplo.

Missões tripuladas

Até o fim da década de 2030, a NASA pensa em realizar uma missão tripulada até Marte. Para que isso possa acontecer, no entanto, ainda resta esclarecer muitos pontos. Atualmente, a agência estadunidense está construindo uma sonda chamada Orion para levar astronautas ao espaço e, depois, trazê-los de volta. Em seguida, eles pretendem criar um módulo maior e mais habitável com mais espaço, capacidade para suprimentos e proteção contra radiação.

Com relação ao filme O Marciano, Nogueira opina que o filme foi bastante realista. O uso de trajes pressurizados também seria necessário caso humanos fossem ao planeta, porque sua atmosfera é muito rarefeita. Os astronautas seriam expostos, ao longo da viagem, a quase o limite máximo de radiação que a NASA aceita expor seus astronautas ao longo da carreira inteira, portanto seria necessário desenvolver alguma forma de proteção também.

Plantar batatas em Marte ainda é algo que está sendo testado, mas a perspectiva é de que seja possível. Seria necessário também produzir combustível em Marte (para trazer os astronautas de volta), então a NASA estuda também maneiras de fazer isso. Se não, seria preciso levar até Marte o combustível que seria usado na volta, o que pode ser impossível.

Colonização

Um dos motivos para se colonizar Marte, segundo Nogueira, seria evitar as “peças que o Universo prega em planetas habitados”, como o meteoro que matou 90% das espécies vivas na Terra – incluindo os dinossauros – há milhões de anos.

Além disso, nos últimos 70 anos, “a humanidade tem desenvolvido uma série de tecnologias capazes de nos matar”, de acordo com Nogueira. O aquecimento global e o desenvolvimento de inteligências artificiais também podem por em risco nossa existência. “Marte nos dá a possibilidade de criar um backup da humanidade”, segundo o jornalista.

O projeto Mars One, que pretende recrutar voluntários para uma viagem só de ida até Marte é “um golpe de marketing”, segundo Nogueira. Ele acredita que dificilmente o projeto terá financiamento. A SpaceX de Elon Musk, por outro lado, parece mais digna de confiança, embora ainda tenha muitos desafios pela frente.

Um deles é aprender a utilizar os recursos de Marte para produzir comida, água e combustível. O outro é reduzir o custo de viagens espaciais, e a SpaceX vem mostrando avanços importantes nesse sentido, pois conseguiu criar foguetes que decolam e depois conseguem pousar de volta.

O final da história de colonização, que Nogueira prevê para depois do século 21, é a terraformação do planeta: torná-lo mais quente, derreter seu gelo e estabilizar o ambiente para que ele seja propício à vida. “Pode ser que Marte nunca seja um planeta habitável para nós, mas ele pode ser ao menos um planeta vivo”, diz.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital