Todo ano, centenas de milhões de toneladas de poeira são sopradas dos desertos da África por sobre o Oceano Atlântico. Essa poeira vinda do deserto do Saara ajuda a formar praias no Caribe, fertiliza o solo na Amazônia e afeta a qualidade do ar nas Américas do Norte e do Sul. Mas como 2020 está destinado a ser um ano atípico, a nuvem de poeira é tão gigantesca que ganhou dos pesquisadores o apelido de “Godzilla”.
Dados dos satélites Copernicus Sentinel e Aeolus da Agência Espacial Europeia (ESA) mostram a extensão dessa nuvem em sua jornada pelo Atlântico. Essa tempestade de poeira, também conhecida como Camada de Ar Saariana, geralmente se forma entre o final da primavera e o início do outono no Hemisfério Norte, atingindo seu pico no final de junho a meados de agosto.
A pluma de 2020 é considerada incomum devido ao seu tamanho e à distância percorrida. De acordo com o Laboratório Oceanográfico e Meteorológico Atlântico da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), a nuvem de poeira foi 70% mais poluída do que a média e a maior dos últimos 20 anos.
Esta animação acima mostra a propagação da poeira, movendo-se para oeste através do Oceano Atlântico entre 1º e 26 de junho. Vídeo: Copernicus Sentinel/ESA
Além disso, as nuvens de poeira percorreram aproximadamente 8 mil km, e foram vistas chegando perto do Caribe e do sul dos Estados Unidos. Em anos anteriores, as plumas dispersaram na atmosfera e afundaram no Atlântico antes de chegar às Américas. Dados coletados indicam que a maior parte da poeira estava de 3 a 6 km acima do solo.
Apesar do tamanho intimidador, pesquisadores lembram que a Camada de Ar Saariana desempenha um papel importante em nosso ecossistema. A poeira é uma importante fonte de nutrientes essenciais para as plantas marinhas microscópicas que flutuam sobre ou perto da superfície do oceano. Esses fitoplanctons por sua vez fornecem alimentos dos quais outras vidas marinhas dependem.
A nuvem também reabastece os nutrientes dos solos das florestas tropicais, inclusive a Amazônia – nutrientes que de outra forma seriam esgotados pelas chuvas frequentes nessa região. Estudos ainda observam que as camadas de ar seco e empoeirado suprimem o desenvolvimento de furacões e tempestades no Atlântico.