Há menos de um mês, o mundo celebrava os 50 anos da primeira vez que o homem pousou na Lua, dando fim a uma etapa marcante da história humana, que teve protagonistas os Estados Unidos e a União Soviética disputando o que ficou conhecido como “corrida espacial”. De lá para cá, as coisas mudaram, a União Soviética não existe mais, mas a obsessão pelo espaço permaneceu: cada vez mais empresas estão começando a aproveitar esse espaço para aplicações comerciais.

Jeff Bezos, fundador da Amazon e também da Blue Origin, sua empreitada espacial, afirmou em 2016 que considerava o espaço como uma “nova internet”. Pode parecer uma comparação estranha, mas sua ideia é simples: a tecnologia espacial hoje está tão barata em relação ao que já foi há 30 ou 40 anos, que dois jovens com uma ideia na cabeça podem tirar uma ideia do papel com baixo custo, como aconteceu com a popularização da internet, que facilitou a criação das startups de tecnologia como Google, Facebook e a própria Amazon.

É um momento de otimismo em relação ao que o espaço pode proporcionar em termos de inovação tecnológica, e isso se reflete também nas expectativas de mercado. A expectativa do banco UBS indica que a economia espacial pode passar a movimentar US$ 1 trilhão ao longo das próximas duas décadas, e muito disso se deve ao barateamento do lançamento de foguetes.

De fato, o que se tem visto agora é uma nova corrida espacial, muitos anos após a disputa por quem chegava primeiro à Lua. Agora, os objetivos são outros, e o mais tangível para nós é o lançamento de satélites que permitam cobrir o planeta com internet de alta velocidade, mesmo em regiões muito pobres ou afastadas dos centros urbanos.

Os planos já estão em andamento

A Amazon já começou a colocar suas engrenagens para funcionar com o objetivo de tirar do papel o Projeto Kuiper, que pretende lançar 3.200 satélites que ficarão na órbita baixa do planeta Terra e serão interconectados para formar uma malha de telecomunicação espacial.

O projeto ainda está em sua fase inicial, no entanto, o que indica que ele pode mudar bastante até virar realidade. Por ainda ser muito incipiente, a Amazon não dá detalhes sobre seus planos, mas revela que planeja oferecer latências de no máximo 25 milissegundos, o que é consideravelmente mais baixo do que as opções de internet via satélite já conhecidas. Considerando a distância entre o solo e o espaço, a missão de oferecer um ping baixo é particularmente desafiadora.

A SpaceX, de Elon Musk, já está falando mais abertamente sobre o tema há algum tempo. Há dois anos, ele já falava em utilizar satélites para disponibilizar internet de até 1 Gbps e recentemente deu mais detalhes, revelando que pretende criar uma rede com quase 12 mil satélites na órbita baixa da Terra.

Neste caso, os planos já estão mais traçados. Chamado de Starlink, o projeto já colocou 60 desses satélites na órbita terrestre, sendo que 57 deles estavam funcionando de acordo com o esperado após um mês, mantendo-se a uma altitude de 550 quilômetros. Ao longo dos próximos anos, e de acordo com as autorizações recebidas pela empresa, o número de satélites deve ser multiplicado, com planos de lançamentos de 60 satélites por vez, com o objetivo de levar à órbita até 2.000 deles por ano. A expectativa é que sejam necessários 24 lançamentos para que esse plano esteja completo.

Não são apenas nomes populares como Amazon e SpaceX que estão de olho no espaço como forma de difundir internet de alta velocidade pelo planeta. Uma outra empresa que vai disputar esse nicho com esses nomes é a OneWeb, que, apesar de não ser tão conhecida, tem por trás uma outra gigante da tecnologia: a japonesa SoftBank. Seu plano é lançar 650 satélites para o espaço dentro dos próximos dois anos.

Brasil também está nessa

Pode parecer que apenas empresas do exterior estão de olho no espaço para fornecimento de internet, mas o Brasil também faz parte desse movimento de olhar para o espaço para fornecer conectividade para áreas mais remotas.

Por aqui, a Viasat estabeleceu uma parceria com a estatal Telebras que permite a utilização do SGDC-1 (Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação) e já atua no programa GeSAC (Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão), que utiliza a conectividade por satélite para atender 6 mil escolar pelo Brasil, sendo a maioria delas em áreas mais remotas e de difícil acesso no país.

A Viasat também tem a intenção de começar a oferecer serviços comerciais fazendo uso do SGDC-1 como contrapartida da parceria com a Telebras. Assim, a empresa poderá fazer uso da banda Ka do satélite e seus 58 Gbps de taxa de transferência para prestar serviços para aviação civil, como entretenimento de bordo, além de fornecer internet para residências e empresas.