Peixes das profundezas absorvem 99% da luz e desaparecem na escuridão

Peixes tem pigmentação natural tão escura que parecem desaparecer, mesmo debaixo de luzes estroboscópicas
Rafael Rigues21/07/2020 14h04, atualizada em 21/07/2020 14h07

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Um dos pigmentos mais negros conhecido pelo homem é o Vantablack, desenvolvido por uma empresa no Reino Unido e capaz de absorver 99,965% da luz que incide sobre ele. Com isto, objetos tridimensionais cobertos pela substância simplesmente “desaparecem” em uma silhueta totalmente escura, como se tivessem sido recortados da realidade.

Mas este material não é exclusividade humana. Pesquisadores descobriram nada menos que 12 espécies de peixes abissais que tem uma pigmentação tão negra que sua pele absorve 99,956% da luz que incide sobre ela, tornando-os extremamente difíceis de fotografar e praticamente invisíveis em seu hábitat natural, numa profundidade onde a luz do Sol não chega.

Reprodução

Uma amostra de Vantablack, o pigmento mais negro conhecido pelo homem, aplicado sobre uma folha de papel alumínio amassada. Foto: Surrey Nanosystems.

A bióloga marinha Karen Osborn, co-autora de um artigo sobre os animais, compartilhou sua frustração ao tentar fotografá-los. “Tentei tirar fotos destes peixes e não conseguia nada além de imagens horríveis, onde não dava pra ver detalhe nenhum”, disse. “Como é possível eu apontar duas lâmpadas estroboscópicas para eles e toda essa luz simplesmente desaparecer?”.

Segundo Alexander Davis, biólogo da Duke University, nos EUA, e autor do artigo, “não tínhamos ideia que existiam peixes ultra-negros. Até onde sabíamos, os únicos vertebrados com esta característica eram algumas espécies de aves, como algumas aves do paraíso”.

Reprodução

Um “Dragão Negro do Pacífico”, um dos peixes com pigmentação tão escura que absorve mais de 99% da luz que incide sobre sua pele. Foto: Karen Osborne / Smithsonian

Os peixes são tão escuros devido a densas camadas de melanossomos, pequenas estruturas celulares cheias de melanina, o mesmo pigmento que dá cor à pele humana. Apesar da luz do Sol não chegar aos locais onde estes peixes vivem, o ambiente não é totalmente escuro: vários animais tem bioluminescência, ou seja, produzem luz, seja para atrair presas ou se comunicar.

E onde há presas, há predadores. Cientistas acreditam que algumas espécies de peixes desenvolveram esta pigmentação ultra-negra para que possam ficar à espreita próximos a estas fontes de luz, sem ser detectados. Como um ninja vestido de preto e escondido nas sombras.

Outras espécies, que só tem esta pigmentação quando jovem, provavelmente a desenvolveram como forma de escapar de predadores. E há animais que tem um revestimento ultra-negro em seus órgãos internos, para que os animais fluorescentes que devoram não chamem a atenção.

“Você não quer nadar por aí com uma barriga brilhando, não é?”, disse Osborne. “Isso é procurar por encrenca”.

Fonte: Futurism

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital